“A ética objetivista”: crítica ao pensamento de Ayn Rand

Imagem do filme “The Fountainhead”, de 1949. Baseado no livro de Ayn Rand.

Em “A ética objetivista”, artigo presente no livro “A virtude do egoísmo”, Ayn Rand define os princípios norteadores do objetivismo, uma corrente filosófica que trata da ética e da moral. É o objetivismo uma filosofia de bases sólidas? Veremos que não. O objetivo geral de nosso texto é a análise crítica do artigo “A ética objetivista” e da “Introdução” do livro “A virtude do egoísmo”. Nossa crítica será orientada por dois critérios: metodológicos e conceituais. Em ambos os critérios, Rand deixa muito espaço para críticas, especialmente pelo fato de que ela não faz qualquer pesquisa hermenêutica sobre o que seja “egoísmo”. Essa é, precisamente, a nossa primeira crítica.

Crítica à metodologia

Ausência de pesquisa hermenêutica

O interesse inicial de Ayn Rand é a reabilitação positiva da palavra “egoísmo”. Vejamos como ela se posiciona:

No uso popular, a palavra “egoísmo” é um sinônimo de maldade; a imagem que invoca é a de um brutamontes homicida que pisa sobre pilhas de cadáveres para alcançar seu próprio objetivo, que não se importa com nenhum ser vivo e persegue apenas a recompensa de caprichos inconsequentes do momento imediato. Porém, o significado exato e a definição do dicionário para a palavra “egoísmo” é: preocupação com nossos próprios interesses. Este conceito não inclui avaliação moral; não nos diz se a preocupação com os nossos próprios interesses é boa ou má, nem nos diz o que constituem os interesses reais do homem. É tarefa da ética responder a tais questões. A ética do altruísmo criou a imagem do brutamontes, como sua resposta, a fim de fazer os homens aceitarem dois princípios desumanos: (a) que qualquer preocupação com nossos próprios interesses é nociva, não importando o que estes interesses possam representar, e (b) que as atividades do brutamontes são, na verdade, a favor dos nossos próprios interesses (que o altruísmo impõe ao homem renunciar pelo bem de seus vizinhos).” (RAND, 1991, p. 24)

Vamos por partes. Em primeiro lugar, Rand contrapõe o sentido popular ao sentido de dicionário da palavra “egoísmo”. Aqui começa nossa primeira decepção. Que dicionário é esse? De onde ela pegou esse sentido? Ao dizer de modo amplo “a definição do dicionário” ela acaba se comprometendo, pois podemos usar qualquer dicionário como base. Para isso, fazendo o trabalho que Rand não fez, recorri aos dicionários mais próximos. Segundo o Priberam, egoísmo é o “amor exclusivo à pessoa e aos interesses próprios”. Segundo o Aulete, é a “dedicação excessiva que uma pessoa tem por si própria, esquecendo-se de considerar as necessidades e o bem dos outros”. Segundo a Infopédia, é a “preocupação exclusiva consigo e com os seus próprios interesses”. Para sair do português, vejamos o que diz o Collins: “concern for one’s own interests and welfare”. Ou seja: “preocupação com os próprios interesses e bem-estar”. Há também uma outra definição no Collins: “the tendency to be self-centered, or to consider only oneself and one’s own interests; selfshness”. Ou seja: “tendência em ser egocêntrico, ou de considerar apenas a si mesmo e seus próprios interesses; egoísmo”.

O que há de comum nessas definições, com exceção da primeira do Collins, é a preocupação exclusiva com os próprios interesses. Ou seja, o egoísta não se preocupa com os interesses dos outros, posto que se preocupa exclusivamente com os seus. A primeira definição do Collins vai ao encontro com a definição de Rand, mas isso não importa. O que fica demonstrado é: Rand não elege um dicionário e não faz qualquer pesquisa hermenêutica sobre o significado de “egoísmo”, o que ocorre é simplesmente uma colocação afoita e desprovida de referências, o que acaba permitindo o nosso uso indefinido de dicionários, causando conflito entre os significados. Um outro problema é que o sentido popular e o sentido de dicionário acabam se confundindo, ao contrário do que a autora pensa.

Como um novo leitor de Rand, esperava um cuidado maior da pensadora, já que há tanta admiração por sua figura e por seus pensamentos, especialmente por aqueles que se intitulam direitistas e guardiões do liberalismo. Esperava a cautela de um John Locke, de um John Rawls, mas não foi o que encontrei. Acabei me deparando com um texto jornalístico, de estilo panfletário, sem aquele rigor marcante que encontramos nos melhores filósofos.

Para dar um exemplo hermenêutico de excelência, lembro de Gadamer e o seu homônimo “Verdade e método”. Lá, Gadamer busca reabilitar o sentido velado da palavra “preconceito”, que foi enviesado pelos ditames do iluminismo. Gadamer faz uma verdadeira arqueologia para remover toda a terra que acabou encobrindo o sentido da palavra, e faz isso por meio de uma análise do “esclarecimento” e das máximas do iluminismo. Em Rand não há análise de qualquer ética precedente, não há nenhum exercício hermenêutico, ela simplesmente faz julgamentos sem antes alicerçar a sua estrutura filosófica.

Em segundo lugar, Rand condena o altruísmo, novamente, sem qualquer análise sobre o que seja. Dessa vez, sequer coloca “a definição do dicionário” para o termo. Ela simplesmente assume que o altruísmo é o culpado de acharmos que a preocupação com nossos próprios interesses é algo de nocivo, necessariamente. De um lado, o egoísmo que preserva o interesse próprio, do outro, o altruísmo que sacrifica o interesse próprio. É tudo muito maniqueísta. Não há uma análise do porquê o altruísmo seria a corrente que, necessariamente, sacrifica o interesse próprio em favor do de um outro. Rand não analisa Platão, Aristóteles, Descartes, Hobbes, Espinosa, Locke, Kant, Mill, simplesmente se coloca como a mensageira de uma grande novidade, de um novo início radical para a ética. Tudo bem, é um trabalho possível, a exemplo do que fizeram Descartes e Husserl com a metafísica, suspendendo todas as filosofias dadas até então para se estruturarem na percepção das essências. Rand, porém, fracassa em seu projeto, pois sequer a sua base é bem estruturada. Ela parte do princípio que só o egoísmo possibilita o autointeresse e, para isso, não dá argumentos suficientes. Por que só o egoísmo possibilitaria o autointeresse? Por que o altruísmo elimina, necessariamente, o autointeresse? E, não menos importante, por que Rand elimina a exclusividade que é própria do egoísmo?

Em grego antigo, o correspondente de “egoísmo” é “ιδιοτέλεια”. A sua raiz é “ἰδιότης”, que origina a palavra “idiota”. Quem eram os idiotas para os gregos? Aqueles que não queriam viver em comunidade, que eram indiferentes ou contra a pólis. Na antiguidade, ou se vivia na barbárie ou em comunidade. O idiota era aquele que abdicava de participar na pólis, que assumia a peculiaridade de preferir a barbárie ou de ser simplesmente inerte. Nesse exercício hermenêutico, o egoísmo, a “ιδιοτέλεια”, é uma característica própria do idiota, daquele que não se preocupa com sua comunidade, com seus colegas. Indo à raiz do “egoísmo” encontramos com mais propriedade a exclusividade que é própria do egoísta, isto é, ele se preocupa apenas com os próprios interesses, passando até mesmo por cima da estrutura da comunidade, da pólis. Para ele, melhor seria a barbárie ou a ausência de qualquer participação na pólis.

Quando Rand diz que o sentido popular do egoísmo evoca a imagem de um brutamontes ela não está errada, de fato, há essa concepção no imaginário popular, de que o egoísta é aquele que passa por cima dos outros para conquistar o que precisa. Esse sentido também é, no entanto, o sentido de dicionário por excelência – o egoísta é um idiota, aquele que passa por cima da pólis, da comunidade, ou que simplesmente não se importa com o seu rumo. A sua corrente de pensamento é a “ιδιοτέλεια”, a “idiotéleia”.

Do lado oposto, temos a “ανιδιοτέλεια”, isto é, o “não idiota”, o “não egoísta”. O não idiota é aquele que se preocupa com a pólis, que busca mantê-la, repará-la, que busca ser um contribuinte na comunidade. “ανιδιοτέλεια” é também a palavra para “altruísmo”. Ou seja, altruísta é aquele que visa o bem da pólis e de seus cidadãos, seus semelhantes. Não é aquele que sacrifica o seu autointeresse para beneficiar o vizinho, mas aquele que procura o bem da comunidade, a sua sustentação, sua perseverança e resiliência diante da barbárie, da guerra. Sim, o altruísta é um preocupado com os outros. Com isso, não abre mão de seus próprios interesses, mas busca o equilíbrio entre aquilo que pretende e aquilo que a comunidade pretende. O altruísta pode aplicar a justa medida, o equilíbrio entre decisões. Já o egoísta não procura equilíbrio algum, pois só existe ele e as suas preocupações internas. Uma coisa é focar em seus próprios interesses, se colocar como prioridade, outra coisa é passar por cima dos interesses da comunidade e incentivar a barbárie.

A tentativa de reabilitação do “egoísmo” como simplesmente “preocupação com nossos próprios interesses” é insuficiente, para não dizer que é mal feita. Sua maior referência é “o dicionário”, que pode ser qualquer um. Rand sequer sonha em dialogar com outras éticas ou em justificar o porquê de que devemos reiniciar a ética e montar as suas bases. Todo o seu texto se estrutura na seguinte frase:

O altruísmo declara que qualquer ação praticada em benefício dos outros é boa, e qualquer ação praticada em nosso próprio benefício é má”. (RAND, 1991, p. 25)

Novamente, ela não diz quando e onde isso foi declarado. Creio que ela se refira ao cristianismo e à moral do “amai ao próximo como a si mesmo”. Se assim for, ela acaba trocando a máxima por “sacrificai a si mesmo pelo próximo”. Essa é a compreensão de Rand, que até poderia ser legítima, mas ela simplesmente não fundamenta a sua crítica. Ao contrário, articula afirmações fáceis e sedutoras ao ignorante em filosofia, que acaba abraçando os seus apontamentos infundados e afoitos. Uma afirmação tão categórica sobre o que seja o altruísmo deveria ter uma análise prévia, posto que a ética é um assunto milenar, mas não, Rand prefere atirar para qualquer lado.

Tendo a base mal formada, não podemos esperar grandes coisas do que se segue. De fato, são afirmações assustadoras. Vejamos:

Daí a imoralidade assustadora, a injustiça crônica, os grotescos padrões duplos, os conflitos e as contradições insolúveis que têm caracterizado os relacionamentos humanos e as sociedades humanas através da história, sob todas as variantes da ética altruísta”. (RAND, 1991, p. 25)

Quer dizer, o altruísmo é o culpado por toda imoralidade, por todos os conflitos e contradições insolúveis nas sociedades humanas através da história. Quanto exagero, não? Rand parte do pressuposto, como vimos, de que o altruísmo é uma ética unilateral que simplesmente aniquila o autointeresse, daí, diz que só o egoísmo preza pelo autointeresse, o que é um absurdo. O altruísmo, a “ανιδιοτέλεια” preza pelo bem-estar da comunidade, pois é do interesse próprio dos cidadãos a manutenção da vida na pólis, em comunidade. Não há qualquer contradição no altruísta se preocupar com os próprios interesses, mas ele busca o equilíbrio entre suas necessidades internas e as necessidades externas da comunidade, ao passo que o egoísta/idiota se preocupa exclusivamente com os interesses internos. A insistência de Ayn Rand em dizer que egoísta é simplesmente aquele se preocupa consigo mesmo é um problema de fundamentação, ela passa por cima tanto do sentido popular quanto do sentido de dicionário e, mais importante, passa por cima do sentido filosófico construído ao longo dos séculos. Rand, em sua falta de cuidado, enaltece o maniqueísmo: de um lado o herói, o egoísmo, do outro lado, o vilão, o altruísmo, o culpado de toda imoralidade existente na história. Seu texto acaba encantando a fantasia leviana dos seres humanos de combater a vilania por meio do heroísmo, jogando a culpa de todos os males do mundo em um vilão único: o altruísmo.

Rand persiste em seu delírio:

“Dado que a natureza não provê o homem com uma forma automática de sobrevivência, dado que ele tem de sustentar sua vida através de seu próprio esforço, a doutrina que diz que a preocupação com nossos próprios interesses é nociva significa, consequentemente, que o desejo de viver do homem é nocivo – que a vida do homem, como tal, é nociva. Nenhuma doutrina poderia ser mais nociva do que esta”. (RAND, 1991, p. 26-27)

Como podemos ver, todas as suas justificativas caem por terra, pois mais uma vez ela se estrutura na noção de que “a doutrina”, o altruísmo, prega que a preocupação com nossos próprios interesses é algo de nocivo. De repente essa noção realmente seja a visão de algum filósofo isolado que escreveu sobre o altruísmo (provavelmente Auguste Comte, apesar de ele não definir a preocupação com os próprios interesses como algo de nocivo), mas Rand simplesmente ataca o conceito em geral, e sem fazer qualquer exercício hermenêutico – um suicídio filosófico. Se o que Rand diz fosse verdade, os cidadãos da pólis se suicidariam em prol dos outros, pois quanto menos pessoas existem, mais recursos ficam disponíveis. O altruísta se preocupa com os próprios interesses, a exemplo de quando vai à guerra para defender sua pátria. Ele vai sim por sua cidade, para manter os ideais e a cultura de sua comunidade, mas também vai por si mesmo, pela qualidade de vida que tem na cidade, pelos benefícios que possui. Há uma justa medida. O altruísta também quer que seus vizinhos desfrutem dos benefícios da pólis, ajudando no que for possível, sem necessariamente se sacrificar. Rand continua destilando absurdos:

“(…) significa que o altruísmo não permite conceito algum sobre um homem que se auto-respeita e é independente economicamente – um homem que sustenta sua vida através de seu próprio esforço e nem se sacrifica pelos outros nem sacrifica os outros por si. (RAND, 1991, p. 27)

Com esse erro metodológico, toda a argumentação de Rand fica comprometida. Não obstante essa falha, podemos esmiuçar mais profundamente a esfera dos conceitos.

Crítica aos conceitos

Redução conceitual

Certamente que o erro metodológico impacta toda a esfera conceitual, como vimos na confusão que Rand faz com os termos egoísmo e altruísmo. É precisamente a ausência de método que implica na nebulosidade conceitual. Em “A ética objetivista”, Rand tenta justificar a necessidade do ser humano precisar de um código de valores. De fato:

“A primeira pergunta que deve ser respondida, como uma condição prévia de qualquer tentativa para definir, para julgar ou para aceitar qualquer sistema específico de ética, é: por que o homem precisa de um código de valores?(RAND, 1991, p. 34)

A indagação de Rand é relevante, bem como a via que escolhe para responder à pergunta. Suas conclusões, no entanto, não fecham, pois o seu objetivo geral é a demonstração do egoísmo como a doutrina a ser seguida, e esse tipo de egoísmo é simplesmente uma forçação de barra, uma definição que passa por cima de sentidos paradigmáticos. Rand é simplista ao ponto de reduzir o egoísmo ao autointeresse. De fato, há autointeresse no egoísmo, mas de forma exagerada e exclusiva, como já vimos na raiz grega. O elemento estruturante do egoísmo, no entanto, é a preocupação exclusiva consigo mesmo, não importando o que ocorra aos outros. A imagem que podemos evocar é a seguinte: por séculos uma comunidade lutou para manter sua cultura e geografia. Um dos moradores não se importa com essa história de preservação, para ele tanto faz se a comunidade morre ou não. Essa é a pessoa egoísta/idiota. Bom, isso é algo que deixamos claro, mas podemos seguir o percurso de Rand em busca de uma resposta.

Rand começa a articular sua solução com a seguinte preparação:

Nenhum filósofo deu uma resposta racional, objetivamente demonstrável e científica à pergunta do porquê do homem precisar de um código de valores”. (RAND, 1991, p. 35)

Diante disso, Rand, a heroína, deve responder àquilo que nunca foi respondido. Antes de entrarmos em sua solução, podemos verificar se o que ela diz é verdade. Será mesmo que nenhum filósofo respondeu a essa pergunta? Vejamos o que diz Kant na “Doutrina elementar ética”, na “Metafísica dos costumes”:

Ainda que não seja o mais importante, o primeiro dever do homem para consigo mesmo na qualidade de animal é a autoconservação em sua natureza animal. O contrário deste dever é a morte física voluntária que, por sua vez, pode ser pensada ou como total ou como meramente parcial”. (KANT, 2013, p. 263)

Essa passagem está inserida no capítulo “Dos deveres perfeitos para consigo mesmo”, ou seja, coisas que dizem respeito ao autointeresse do ser humano. O primeiro dever do homem, diz Kant, é a sua autoconservação, isto é, o homem deve preservar sua vida, cuidar de si mesmo, evitando a morte física. Essa passagem se afina com Heidegger em “Ser e tempo”, quando diz que a morte é aquilo que nos chama ao cuidado. Por que o ser humano deve se autoconservar? Para não se ferir, para evitar a dor, a morte. É algo simples e objetivo. Diante do mundo, o ser humano se vê diante de inúmeros perigos, é só na preocupação com a sua própria vida que ele pode se preservar. Ou seja, a vida é o primeiro dever do homem para Kant, a preservação da vida individual. Kant mostra a importância da independência de cada indivíduo:

Não se tornem escravos dos homens. Não deixem seu direito ser pisoteado impunemente por outrem. Não façam nenhuma dívida para a qual não ofereçam plena garantia”. (KANT, 2013, p. 280)

Kant, com clareza, mostra que o ser humano deve se atentar para sua própria vida, evitando a dominação por parte de outros. O ser humano precisa se comprometer consigo mesmo pelo simples fato que precisa sobreviver, eis o dever primordial. Ainda assim, Kant não vai defender o egoísmo, ao contrário:

Aquele que encontra prazer no bem-estar (salus) dos homens na medida em que os considera meramente enquanto tais, que se sente bem quando as coisas vão bem para os outros, chama-se amigo dos homens (filantropo) em geral. Aquele que se sente bem apenas quando ocorrem males aos outros chama-se inimigo da humanidade (misantropo em sentido prático). Aquele que é indiferente ao que acontece com os outros desde que com ele tudo vá bem, é um egoísta (solipsista). (…) A máxima da benevolência (o amor prático aos homens) é um dever de todos os homens, considerem-se estes dignos de amor ou não, segundo a lei ética da perfeição: ame o próximo como a você mesmo. Pois toda relação prático-moral entre homens é uma relação dos mesmos na representação da razão pura, isto é, das ações livres segundo máximas que se qualificam a uma legislação universal e que, portanto, não podem ser egoístas (ex solipsismo prodeuntes)”. (KANT, 2013, p. 296)

A citação é boa em dois sentidos: ela mostra a definição kantiana do egoísmo e mostra a benevolência como um dever de todos os homens. Kant, mais acurado com a raiz da palavra, vê o egoísmo como aquilo que prega a indiferença e o solipsismo, isto é, a vida privada como a única digna de atenção. Não devemos cair no solipsismo, pois assim como tenho ações livres, o próximo também tem. Partilhamos da razão pura, da capacidade de pensar. Quer dizer, Kant não vê qualquer contradição em sustentarmos o autointeresse e a benevolência, posto que o primeiro nada tem a ver com o egoísmo, mas com a preservação do ego (do eu).

Além de Kant, Thomas Hobbes também escreveu sobre os valores humanos. Certamente que ele não colocou a questão como Rand colocou, o do porquê o homem precisa de um código de valores, mas apontou para a força motriz que move o ser humano:

“Assinalo assim, em primeiro lugar, como tendência geral de todos os homens, um perpétuo e irrequieto desejo de poder e mais poder, que cessa apenas com a morte. E a causa disto nem sempre é que se espere um prazer mais intenso do que aquele que já se alcançou, ou que cada um não possa contentar-se com um poder moderado, mas o fato de não se poder garantir o poder e os meios para viver bem que atualmente se possuem sem adquirir mais ainda. E daqui se segue que os reis, cujo poder é maior, se esforçam por garanti-lo no interior através de leis, e no exterior através de guerras”. (HOBBES, 1997, p. 37)

O perpétuo desejo de poder do homem é o seu guia, pois só assim, diz Hobbes, ele pode garantir os meios para viver bem. Mais uma vez, portanto, a vida aparece como aquilo que orienta a busca dos seres humanos, e essa busca só é possível no acúmulo de poder. Objetivamente, o ser humano precisa se munir do necessário para sobreviver, ou é isso ou a morte. O desejo de poder é a abertura para as possibilidades, o direcionamento do que posso ou não fazer. Sou poderoso o suficiente para sobreviver, para construir coisas, para ter sucesso? A vida é o que devemos proteger, e somente com poder podemos.

É por aí que Rand vai se encaminhar. O que podemos apreciar, agora, é a resposta àquela pergunta que fizemos: nenhum filósofo respondeu à pergunta feita por Rand? Evidentemente que não. Apesar de não colocarem a pergunta à maneira de Rand, tanto Kant quanto Hobbes mostram a razão de termos valores. A escrita de Rand é pouco acurada, para não dizer que é descuidada.

Em sentido semelhante ao kantiano, Rand vai colocar a vida como um valor supremo, mas vai fazer isso para cometer um crasso erro conceitual. Vejamos na sequência:

“Um valor supremo é aquele objetivo final para o qual todos os objetivos menores são meios – ele estabelece o critério pelos todos os objetivos menores são valorados. A vida de um organismo é o seu padrão de valor: aquilo que promove sua vida é o bem, aquilo que ameaça é o mal. (…) Metafisicamente, a vida é o único fenômeno que é um fim em si mesmo: um valor ganho e mantido por um processo constante de ação”. (RAND, 1991, p. 40)

Não há novidade nisso, a não ser que, a partir daí, Rand vai começar a articular aquilo que chama “objetivismo”. Cabe indagarmos: se a vida é mantida por um processo constante de ação, como pode ser um fim em si mesmo? Uma ação é sempre de algo ou alguém. Não seria a vida o meio que possibilita a vivência? A vivência nunca é algo em si, mas um processo de uma subjetividade, de um ente que experimenta e sente. Não há vida sem vivência, e isso não quer dizer que não há vida sem subjetividade, mas sim que não há vida sem movimento, sem um processo. A vida é o meio que possibilita o movimento e, nos mexendo, alcançamos um fim: a sobrevivência. Quem fica parado não sobrevive. A noção de que a vida é um fim em si mesmo é um tanto problemática. Essa análise será fundamental para compreendermos o erro conceitual de Rand.

Como podemos definir o objetivismo de Rand, quais são os seus critérios? Somente ela pode nos responder:

“A ética é uma necessidade objetiva e metafísica da sobrevivência do homem (…) O critério de valor da ética objetivista – o critério pelo qual alguém julga o que é bem ou mal – é a vida do homem, ou: aquilo que é exigido para a sobrevivência do homem enquanto homem”. (RAND, 1991, p. 51-52)

Partindo da ideia de que devemos sobreviver acima de tudo, colocando esse dever como necessidade objetiva, Rand estrutura o seu objetivismo. Isto é, precisamos de valores para sobreviver, do contrário, não fazemos o necessário para a nossa sobrevivência. Essa tese, porém, é insuficiente para a estruturação de um objetivismo. Por qual motivo? Rand se apega demais ao fenômeno, à vida. Tudo bem, realmente precisamos de valores para nos mantermos, saber o que é bom para a vida e o que é ruim. Nosso organismo nos impele à sobrevivência, e devemos buscar os meios no mundo. Essa busca é sempre subjetiva, cada um traça o seu caminho, a sua vida. A ética surge sim de uma necessidade objetiva, mas o como devemos satisfazer as necessidades é algo de subjetivo, que compete à vivência. Nesse sentido, o objetivismo possui um problema de escopo: não se pode generalizar a ética como objetiva só pelo fato de que a vida nos impele ao que é bom ou ruim para a sua manutenção, posto que a nossa jornada é sempre subjetiva. Apesar da ética iniciar na necessidade objetiva, ela não se sustenta somente nela, pois o nosso interesse se expande para além da sobrevivência, o nosso desejo por poder nos mostra outras vias – vivências subjetivas.

Esse apontamento não derruba o fato de haver sim uma necessidade objetiva, mas mostra que uma ética nunca é somente objetiva, mas também subjetiva. Isso se dá pelo seguinte fato: somos organismos, produtos da evolução, temos necessidades internas que só podem ser satisfeitas no externo, no mundo. Apesar de sermos guiados por nosso organismo, somos também guiados pelo mundo, escolhemos a partir dele, evoluímos nele. Há uma interioridade e uma exterioridade, uma subjetividade e uma objetividade. Vivemos nessa correlação, nessa dependência metafísica. Tire o mundo e não verá indivíduo, tire o indivíduo e não verá vivências humanas no mundo. Uma ética objetivista simplesmente ignora a subjetividade das vivências, colocando-as como objetivas, o que é um contrassenso. Não posso saber o que meu vizinho pensa, a não ser que ele comunique, ponha na linguagem. O processo de colocar algo na linguagem é sempre subjetivo, pois primeiro organizamos internamente a nossa fala e então falamos. O fato de que posso me comunicar pressupõe que tenho ao menos dois indivíduos competentes com uma língua, e essa competência é sempre um aprendizado subjetivo – cada um aprende de um jeito, em um ritmo próprio. Rand, mais uma vez, reduz toda a linguagem e todo o aprendizado à objetividade, o que é um absurdo, como já vimos.

Com o objetivismo, Rand busca mostrar a “virtude do egoísmo”, isto é, que a preocupação com os próprios interesses deve ser o princípio norteador dos indivíduos, posto que a vida cobra sempre um esforço individual de cada um para que possa haver sobrevivência. Como vimos, porém, isso nada tem a ver com egoísmo, apenas com autointeresse. Não há virtude no egoísmo, mas sim no autointeresse. Rand faz uma confusão com os dois termos, visto que não faz qualquer exercício hermenêutico. Se retiramos a justificativa afoita sobre o egoísmo e o objetivismo, o que nos resta? O autointeresse. O pensamento de Rand se torna, basicamente, uma coleção de frases de efeito: “cuide de você mesmo”, “ponha-se em primeiro lugar”, “seja um vencedor”, “tenha amor próprio”. Infelizmente é o que acontece, pelo fato de que Rand simplesmente não dialoga com a tradição, não faz uma sistemática.

Partamos para a última redução: o culto exacerbado da racionalidade. Vejamos o que ela diz:

“A virtude da Racionalidade significa o reconhecimento e aceitação da razão como a nossa única fonte de conhecimento, nosso único juízo de valores e nosso único guia de ação. Significa nosso total comprometimento para com um estado de atenção pleno e consciente, com a manutenção de um foco mental completo em todas as questões, em todas as escolhas, em todas as nossas horas de vigília. (…) Significa a rejeição de toda e qualquer forma de misticismo, isto é, qualquer apelação a alguma fonte de conhecimento não-sensorial, não-racional, não-definível, sobrenatural. Significa um compromisso com a razão, não em momentos esporádicos, em questões selecionadas, ou em emergências especiais, mas como uma filosofia de vida permanente”. (RAND, 1991, p. 57-58)

Rand reduz nossa fonte de conhecimento à racionalidade, não há conhecimento herdado, memória muscular, intuição, instinto. Mas isso não é o pior, ela simplesmente nos convoca para um foco mental completo, “em todas as nossas horas de vigília”. Não é permitido ao ser humano o esquecimento, o descanso, e nem também a crença em algo sobrenatural.

Pensar não é uma função automática, em cada situação ou momento de sua vida, o homem é livre para pensar ou evitar esse esforço. (…) Psicologicamente, a escolha de “pensar ou não” é a escolha de “focalizar ou não”. Existencialmente, a escolha de “focalizar ou não” é a escolha de “ser consciente ou não”. Metafisicamente, a escolha de “ser consciente ou não” é a escolha de vida ou morte”. (RAND, 1991, p. 47-48)

Caso desfoque de suas necessidades, você escolhe a morte. Esse compromisso deve ser “permanente” e “em todas as nossas horas de vigília”, como diz Rand. É simplesmente um autoritarismo da racionalidade, uma ditadura. Desfocar a sua atenção é escolher a morte. Há ainda algo pior: Rand diz que “o homem é livre para pensar ou evitar esse esforço”, como se não existissem sensações, tal como o medo, que simplesmente sobrevêm ao pensamento. Nesse caso, não há liberdade para pensar ou evitar, as imagens simplesmente dominam o pensamento, podendo causar sérios distúrbios. Não obstante as falhas argumentativas de Rand, ela ainda convoca todos a serem soldados do pensamento, vigilantes a todo momento. Nessas horas, o cuidado de um Santo Agostinho ou de um Walter Benjamin fazem muita falta, pois ambos tratam das lacunas da racionalidade, do esquecimento, da memória involuntária. Infelizmente, o pensamento de Rand se parece muito mais com “coaching” do que filosofia.

REFERÊNCIAS:

HOBBES, Thomas. Leviatã. São Paulo: Abril Cultural, 1997.

KANT, Immanuel. Metafísica dos costumes. Petrópolis: Editora Vozes, 2013.

RAND, Ayn. A virtude do egoísmo. São Paulo: Editora Ortiz, 1991.

20 melhores filmes de tribunal: para advogados e estudantes de direito

Suspense no tribunal:

Desde os primórdios o cinema voltou os seus olhos para os tribunais. Qual seria o motivo? Talvez pelo fato de que o decurso de um julgamento está sempre em torno do suspense. O acusado será inocente ou culpado? Haverá provas suficientes? A expectativa de um julgamento, por si só, acaba entretendo os espectadores, para a infelicidade dos acusados. Com essa estrutura, o cinema aproveita para armar sua base e destilar o suspense.

20. Tsuma wa kokuhaku suru (1961)

Direção: Yasuzô Masumura

Três alpininstas escalam o lado Norte do Monte Hodaka. Durante a subida, Ayako corta a corda para salvar a vida de Kouda, que é seu amante, matando o seu marido Takigawa. No julgamento, seu passado envolto de mistérios é gradualmente revelado.

19. Questão de honra (1992)

Direção: Rob Reiner

Após um soldado morrer acidentalmente em uma base militar, depois de ter sido atacado por dois colegas da corporação, surge a forte suspeita de ter existido um “alerta vermelho”, uma espécie de punição extra-oficial na qual um oficial ordena a subordinados seus que castiguem um soldado que não tenha se comportado corretamente. Quando o caso chega aos tribunais, um jovem advogado (Tom Cruise) resolve não fazer nenhum tipo de acordo e tentar descobrir a verdade.

18. O insulto (2017)

Direção: Ziad Doueiri

Em Beirute, um insulto explosivo leva Toni, um cristão libanês, e Yasser, um refugiado palestino, para o tribunal. De feridas secretas a revelações traumáticas, o circo midiático que envolve divide o Líbano em uma crise social, forçando Toni e Yasser a reconsiderarem suas vidas e preconceitos.

17. JFK (1991)

Direção: Oliver Stone

Sem estar convencido do parecer final da Comissão Warren, que conclui ter sido o Presidente John F. Kennedy assassinado por uma única pessoa, o promotor Jim Garrison tenta provar a existência de uma conspiração.

16. Sacco e Vanzetti (1971)

Direção: Giuliano Montaldo

Boston, início dos anos 20. Nicola Sacco (Riccardo Cucciolla) e Bartolomeo Vanzetti (Gian Maria Volonté) são dois imigrantes italianos, sendo o primeiro um sapateiro e o outro um peixeiro, que são detidos pela polícia. Ninguém negava que eram anarquistas, na verdade eles mesmo admitiam, pois acreditavam que era a única forma de o homem ser explorado pelo homem. Porém era duvidoso que Sacco e Vanzetti fossem culpados de um assassinato, que aconteceu em 15 de abril de 1920. O julgamento deles deixou de ser algo baseado na justiça e sim na política, pois deviam ser condenados por serem estrangeiros e seguirem uma doutrina política que se opunha ao conservadorismo, que tinha as rédeas do poder nos Estados Unidos.

15. Pânico (1946)

Direção: Julien Duvivier

Baseado em romance de Georges Simenon. Mr. Hire é um homem de meia-idade que se apaixona por sua vizinha Alice e acaba sendo acusado de um assassinato cometido pelo amante dela, Alfred.

14. Kanoon (1960)

Direção: B.R. Chopra

Um advogado detém a evidência de uma testemunha ocular para pegar um assassino, mas o criminoso identificado é o próprio mentor do advogado, o futuro sogro e também o juiz que preside o caso.

13. Calcutta 71 (1971)

Direção: Mrinal Sen

Um jovem furioso sendo julgado em 1971, uma tempestade em uma favela em 1933, uma família de classe média baixa durante a fome de 1943, contrabandistas adolescentes em 1953 e um grupo de classe média em um hotel chique em 1971. Retrato de uma calamidade.

12. Breaker Morant (1980)

Direção: Bruce Beresford

Durante a Guerra Bôer, em 1899, três tenentes australianos que haviam se juntado ao exército britânico são injustamente acusados de um crime, quando, na verdade, apenas seguiam ordens superiores. Durante o julgamento, a defesa luta bravamente para inocentá-los.

11. A verdade (1960)

Direção: Henri-Georges Clouzot

Dominique Marceau (Bardot) é julgada pela morte de seu amante Gilbert Tellier (Frey) e aos poucos, durante o processo, todos os ângulos da imagem da ré começam a aparecer, de acordo com o ponto de vista de sete testemunhas do caso, cada qual com a sua própria verdade definitiva.

10. O veredicto (1982)

Direção: Sidney Lumet

Advogado alcoólatra e decadente vê a chance de recuperar a sua auto-estima quando lhe é dado um caso sobre um erro médico. Mesmo quando uma quantia razoável é oferecida para se chegar a um acordo e o caso não ir a julgamento, ele não concorda e decide enfrentar um poderoso grupo, que é defendido por um renomado e ardiloso advogado.

9. A mulher faz o homem (1939)

Direção: Frank Capra

Jovem interiorano e idealista é eleito para o Senado e chega à capital americana cheio de sonhos e aspirações. Mas não demora para que ele descubra os verdadeiros interesses que movimentam seus colegas de congresso.

8. Em nome do pai (1993)

Direção: Jim Sheridan

Em 1974, um atentado a bomba produzido pelo IRA (Exército Republicano Irlandês) mata cinco pessoas num pub de Guilford, arredores de Londres. O filme conta a história real do jovem rebelde irlandês Gerry Conlon, que junto de três amigos, é injustamente preso e condenado pelo crime. Giuseppe Conlon, pai de Gerry, tenta ajudá-lo e também é condenado, mas pede ajuda à advogada Gareth Peirce, que investiga as irregularidades do caso.

7. O sol é para todos (1962)

Direção: Robert Mulligan

Jean Louise Finch (Mary Badham) recorda que em 1932, quando tinha seis anos, Macomb, no Alabama, já era um lugarejo velho. Nesta época Tom Robinson (Brock Peters), um jovem negro, foi acusado de estuprar Mayella Violet Ewell (Collin Wilcox Paxton), uma jovem branca. Seu pai, Atticus Finch (Gregory Peck), um advogado extremamente íntegro, concordou em defendê-lo e, apesar de boa parte da cidade ser contra sua posição, ele decidiu ir adiante e fazer de tudo para absolver o réu.

6. Testemunha de acusação (1957)

Direção: Billy Wilder

Quando Leonard Vole (Tyrone Power), é preso sob a acusação de ter assassinado uma rica viúva de meia-idade, Sir Wilfrid Robarts (Charles Laughton), um veterano e astuto advogado, concorda em defendê-lo. Sir Wilfrid, está se recuperando de um ataque do coração quase fatal e “supostamente” está em uma dieta, que o proíbe de ingerir bebidas alcoólicas e de se envolver em casos complicados. Mas a atração pelas cortes criminais é algo muito forte para ele, especialmente quando o caso é bem difícil. O único álibi de Vole é o testemunho da sua esposa, Christine Vole (Marlene Dietrich), uma mulher fria e calculista. A tarefa de Sir Wilfrid fica praticamente impossível quando Christine Vole concorda em ser testemunha, não da defesa, mas da acusação.

5. Muito mais que um crime (1989)

Direção: Costa-Gavras

Desde que chegou nos Estados Unidos, há 50 anos atrás, Michael Laszlo, um imigrante húngaro, se fez sozinho. Ele tem muito orgulho da sua filha, Ann Talbot, uma bem-sucedida advogada de Chicago. Entretanto, quando os russos revelam alguns documentos da 2ª Guerra Mundial, ele é acusado de ser um conhecido criminoso de guerra. Ele diz que está convencido que é uma trama dos comunistas para desacreditá-lo e insiste que sua filha o defenda.

4. Anatomia de um crime (1959)

Direção: Otto Preminger

No Michigan, Paul Biegler (James Stewart) é um advogado que é auxiliado por um alcoólatra, Parnell McCarthy (Arthur O’Connell). Após ter recusado inicialmente, ele decide aceitar a defesa de Frederick Manion (Ben Gazzara), um tenente do exército acusado de assassinato. O réu alega que a vítima violentou Laura Manion (Lee Remick), sua mulher, mas seu oponente é Claude Dancer (George C. Scott), um conceituado promotor que afirma que a alegação do réu é falsa e que Laura, que tem uma reputação de promíscua, estava realmente tendo um caso com o bartender assassinado, sendo que durante um acesso de cíúme Frederick teria intencionalmente cometido o crime.

3. Glória feita de sangue (1957)

Direção: Stanley Kubrick

Depois de se recusar a atacar uma posição inimiga, um general acusa os soldados de covardia e seu comandante deve defendê-los.

2. 12 homens e uma sentença (1957)

Direção: Sidney Lumet

O filme gira em torno de um julgamento, onde um jovem porto-riquenho é acusado de ter matado o próprio pai. Os 12 jurados se reúnem para decidir a sentença, com a orientação de que o réu deve ser considerado inocente até que se prove o contrário. Onze deles, cada um com sua razão, votam pela condenação. Henry Fonda faz o papel do único que acredita na inocência do garoto. Enquanto ele tenta convencer os outros a repensarem a sentença, o filme vai revelando sobre cada um dos jurados, mostrando as convicções pessoais que os levaram a considerar o garoto culpado e fazendo com que examinem seus próprios preconceitos.

1. O vento será tua herança (1960)

Direção: Stanley Kramer

O famoso caso ocorrido em 1925, no estado americano do Tennesse, quando o professor John Thomas Scopes foi julgado criminalmente por ensinar a teoria da evolução de Darwin em uma escola pública. ”O Julgamento do Macaco” (Monkey Trial), como ficou conhecido, teve repercussão mundial pela batalha travada pelos advogados de acusação e defesa. Durante o julgamento, que durou onze dias e foi o primeiro a ser transmitido por rádio, a defesa foi impedida pelo juiz de apresentar cientistas como testemunhas em favor da teoria da evolução.

15 filmes brasileiros sobre saúde mental

Aproveitando o tema da redação do Enem de ontem – O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira – a lista a seguir serve ao propósito da pesquisa e entendimento do assunto a partir da ótica de 15 filmes brasileiros.

15. Dentro de nós – as respostas sobre a depressão (2013)

“Dentro de nós- as respostas sobre a depressão” apresenta uma visão ampliada sobre uma das doenças mais incapacitantes segundo a Organização Mundial de Saúde, encarando-a além da esfera do biológico e de algo que precisa ser eliminado com medicamentos, mas sim como um chamado do corpo para refletirmos sobre as origens da doença. Com depoimentos de pessoas que viveram ou convivem com o problema e de profissionais de diversas áreas da saúde, o documentário busca esclarecer sobre as múltiplas possibilidades de causas e de tratamentos do transtorno, encarando o ser humano de forma integral, no qual saúde e doença são reflexo de condições ambientais, psíquicas e emocionais e não meramente de reações orgânicas. Por fim, propõe uma reflexão sobre como podemos evoluir através do olhar mais profundo e honesto sobre nós mesmos e nossos sofrimentos.

14. Vozes da voz (2013)

O documentário faz um resgate histórico das instituições psiquiátricas e da luta antimanicomial que foi iniciada no Brasil na década de 1980 e instaurou uma rede de serviços substitutivos ao regime manicomial. Vozes da Voz mostra que a sociedade precisa aprender a conviver com as diferenças e não simplesmente ignorá-las. São levantados questionamentos que visam o fim do estigma do louco, sua credibilidade e sua inserção na sociedade. Através das vozes de profissionais e usuários da saúde mental, o filme pretende ampliar os direitos políticos, legislativos e, principalmente sociais dos portadores de sofrimento psíquico.

13. Protagonistas – Tratamento Antimanicomial (2014)

O vídeo documentário aborda assuntos do sistema de saúde mental no Brasil, após a reforma psiquiátrica ocorrida em 2001. Trabalho realizado em 2014, por alunos da Universidade Cruzeiro do Sul, para o teste de conclusão de Curso de Jornalismo.

12. A casa dos mortos (2009)

Bubu é um poeta com doze internações em manicômios judiciários. Ele desafia o sentido dos hospitais-presídios, instituições híbridas que sentenciam a loucura à prisão perpétua. O poema A Casa dos Mortos foi escrito durante as filmagens do documentário e desvelou as mortes esquecidas dos manicômios judiciários. São três histórias em três atos de morte. Jaime, Antônio e Almerindo são homens anônimos, considerados perigosos para a vida social, cujo castigo será a tragédia do suicídio, o ciclo interminável de internações, ou a sobrevivência em prisão perpétua nas casas dos mortos.

11. Saúde mental e dignidade humana (2014)

O filme apresenta entrevistas com especialistas no assunto da saúde mental e faz parte do Dia Nacional da Luta Antimanicomial, celebrado no domingo, dia 18 de maio. Augusto Cesar de Faria, diretor de saúde mental da Secretaria de Saúde do DF, Paulo Delgado, ex-deputado constituinte e autor da Lei da Reforma Psiquiátrica, e Roberto Tykanori Kinoshita, coordenador nacional de saúde mental do Ministério da Saúde, trazem luz a um tema polêmico e urgente no Brasil.

10. Estamira (2004)

Estamira é a história de uma mulher de 63 anos que sofre transtornos mentais e que durante 20 anos viveu e trabalhou no Aterro Sanitário de Jardim Gramacho. Carismática e maternal, Dona Estamira convive com um pequeno grupo de catadores idosos num local renegado pela sociedade, que recebe diariamente mais de oito mil toneladas de lixo produzido no Rio de Janeiro.

9. Azyllo muito louco (1970)

Século XIX. Na província de Serafim, vive uma população muito religiosa, mas sem pastor. Para orientá-la, chega da Capital o padre Simão, trazendo uma bagagem de novas idéias. Mais preocupado com a saúde mental do que com os problemas da alma de seus paroquianos, o padre manda construir, com a ajuda de rica senhora, Dona Evarista, um hospital de alienados. O local fica conhecido como a Casa Verde e nele é recolhida quase toda a população da cidade. Adaptação livre do conto O Alienista, de Machado de Assis, o filme representou o Brasil no Festival de Cannes de 1970 e obteve o Prêmio Luis Buñuel da crítica espanhola.

8. Olhar de Nise (2015)

Nise da Silveira, uma das primeiras mulheres brasileiras a se formar em medicina, revolucionou a psiquiatria no país usando tratamentos humanitários para doenças mentais ao invés dos procedimentos violentos que eram o padrão para a época. Sua história inclui uma acusação de comunismo no governo Vargas que a levou à prisão, uma agitação nos meios culturais cariocas ao criar ateliês artísticos em um hospital psiquiátrico, dentre outros feitos marcantes. Para pontuar o retrato dessa história, o filme mostra a última entrevista da psiquiatra alagoana.

7. A loucura entre nós (2015)

Quais os limites da nossa sanidade? O que nos define como normais? “A loucura entre nós” lança um olhar sobre os corredores e grades de um hospital psiquiátrico, buscando personagens e histórias que revelem as fronteiras do que é considerado loucura. Através, principalmente, de personagens femininas, o documentário exala as contradições da razão, nos fazendo refletir nossos próprios conflitos, desejos e erros. Livremente inspirado no livro homônimo do médico psiquiatra Marcelo Veras, o filme faz um sensível mergulho nos paradoxos da reinserção da loucura no mundo em geral, subvertendo qualquer tentativa de reduzir as personagens retratadas a marionetes de questões envolvendo a sanidade mental.

6. Do luto à luta (2005)

Uma análise das deficiências e potencialidades da Síndrome de Down, problema genético que atinge cerca de 8 mil bebês a cada ano no Brasil. A Síndrome de Down é sem dúvida um problema, mas as soluções são bem mais simples do que se imagina, principalmente quando são deixados de lado os preconceitos e estigmas sociais.

5. Em nome da razão (1979)

Documentário quase todo filmado no manicômio de Barbacena, Minas Gerais. A câmera penetra em todos os ambientes do hospital pavilhões de velhos, aleijados, crianças, homens e mulheres. As sequências são interligadas pela imagem de um longo e escuro corredor do hospício e uma ‘louca’ que canta uma música.

4. Nise: o coração da loucura (2016)

Ao sair da prisão, a doutora Nise da Silveira volta aos trabalhos num hospital psiquiátrico no subúrbio do Rio de Janeiro e se recusa a empregar o eletrochoque e a lobotomia no tratamento dos esquizofrênicos. Isolada pelos médicos, resta a ela assumir o abandonado Setor de Terapia Ocupacional, onde dá início à uma revolução regida por amor, arte e loucura.

3. Imagens do inconsciente (1988)

Entrevista conduzida, em 1986, pelo cineasta Leon Hirszman com a psiquiatra Nise da Silveira. O projeto ficou inacabado, pois o diretor faleceu em 1988. O projeto era, justamente, um epílogo para sua trilogia “Imagens do Inconsciente”, sobre os trabalhos da pioneira Nise da Silveira. Em 2014, Eduardo Escorel montou o filme que ora vemos, com o material bruto da entrevista concedida em 1986.

2. Bicho de sete cabeças (2001)

Seu Wilson (Othon Bastos) e seu filho Neto (Rodrigo Santoro) possuem um relacionamento difícil, com um vazio entre eles aumentando cada vez mais. Seu Wilson despreza o mundo de Neto e este não suporta a presença do pai. A situação entre os dois atinge seu limite e Neto é enviado para um manicômio, onde terá que suportar as agruras de um sistema que lentamente devora suas presas.

1. Holocausto brasileiro (2016)

Adaptação do livro homônimo escrito por Daniela Arbex, este é um retrato aprofundado e contundente sobre os eventos que ficaram conhecidos como Holocausto Brasileiro, ou seja, o grande genocídio cometido contra os pacientes psiquiátricos do hospício de Barbacena, em Minas Gerais, local onde os pacientes eram torturados, humilhados e assassinados.

5 magníficas diretoras que você deve conhecer

Nada melhor que divulgar, admirar e exaltar a obra de grandes diretoras em meio ao número infinitamente maior de diretores com publicidade e admiração. Listo aqui 5 grandes diretoras que se perderam no tempo, mas as obras ressoam ainda em efetividade. Que essa lista sirva ao propósito de ser um pequeno resgate.

Wanda Jakubowska

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Wanda tem uma história incrível como a sua filmografia. Esteve presa em Auschwitz durante o holocausto, sendo uma das poucas sobreviventes. A sua obra máxima, Ostatni etap (A Última Etapa – 1947) é um relato devastador sobre as mulheres presas em Auschwitz. Estamos acostumados com os relatos masculinos, Wanda nos mostra com uma direção impecável as angústias e o absurdo da guerra também para as mulheres presas. Não obstante, o filme se configura como um dos relatos mais verossímeis e também um dos primeiros a tratar sobre os internos de Auschwitz. Seus filmes são altamente politizados e com uma consciência poderosíssima de combate ao nazifascismo. Dirigiu também os interessantes filmes Pozegnanie z diablem (1957) e Kolory kochania (1988).

Shu Shuen Tong

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Essa grande diretora se destaca principalmente pelo filme Zai Jian Zhongguo (1978), obra que serve de retrato da época da revolução cultural chinesa, evidenciando os absurdos, as contradições e também alguns dos benefícios. Trata-se de uma história de quatro estudantes que acabam por sofrer repressão durante o período. Sua direção é marcada por um interessante olhar político, apontando também para as contradições do mundo circundante, não apenas de seu país. Dirigiu também o ótimo filme Dong fu ren (O Arco – 1968). Shu Shuen também era roteirista, acumulando funções no mundo cinematográfico.

Kinuyo Tanaka

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Kinuyo respirou cinema. Foi uma famosa atriz do cinema japonês, atuando em filmes de Kenji Mizoguchi, Mikio Naruse, Keisuke Kinoshita, Yasujiro Ozu, todos diretores famosos e consolidados. Porém, Kinuyo foi também diretora, realizando grandes filmes como Ogin-sama (1962), Onna bakari no yoru (1961), Ruten no ôhi (1960) e Tsuki wa noborinu (1955). Apesar de famosa atriz, seu trabalho na direção acabou esquecido.

Márta Mészáros

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Por vezes conhecida como a Agnès Varda da Hungria, Márta é reconhecida por suas personagens heroínas, mulheres de enorme fortaleza e intelectualidade. Realizou obras magistrais como Örökbefogadás (1975), pelo qual ganhou o Urso de Ouro em Berlim, Örökség (1980) e Szép lányok, ne sírjatok! (1970). Márta também é roteirista e hoje está com 88 anos.

Yuliya Solntseva

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Yuliya Solntseva foi atriz, diretora, produtora e roteirista, gênio da sétima arte. Não só acumulava várias funções, mas realizava cada uma com cuidado e originalidade. Seus filmes são marcados pelo protagonismo feminino e a forte presença de temáticas ainda atuais, como a vida das mulheres durante as guerras e os pequenos detalhes que acabam por tornar as convivências em verdadeiros infernos. Também dirigiu o impressionante filme Zacharovannaya Desna (1964), um retrato sobre a vida de seu marido, Dovzhenko, também um grande diretor. Solntseva foi a primeira mulher a obter o título de melhor diretora no festival de Cannes, em 1961, por A epopeia dos anos de fogo, a sua magnum opus.

“Noites Brancas” e o elemento hermenêutico

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Em Noites Brancas, Dostoiévski tece diálogos entre o Sonhador e Nástienka, sendo que o tema principal das conversas são as histórias que os dois podem contar sobre as vivências passadas. Por parte do Sonhador, vemos um constante evitar em rememorar seu passado, aliás, Dostoiévski (2016, p. 28) descreve o personagem como um sujeito sem qualquer história, um tipo ridículo. Como em vários de seus outros romances, há um reconhecimento muito natural das falibilidades por parte dos personagens, que não só reconhecem, mas, por vezes, se orgulham. Há um certo orgulho por parte do Sonhador em ser um sujeito meramente observador. Logo no início, Dostoiévski (ibid., p. 12) descreve um diálogo mental do Sonhador com as casas de São Petersburgo, como se tivessem desejos e um cômico medo de receberem uma outra pintura. O Sonhador se apega aos instantes mais fugazes, em pequenos detalhes, como ele (ibid., p. 16) mesmo chega a refletir sobre a relação da beleza com o instante. Seu olhar observador acaba direcionado à jovem Nástienka, que na ocasião é abordada por um homem com más intenções. O Sonhador deixa sua posição de observador e procura ajudar de alguma forma. O homem vai embora e o Sonhador consegue então dialogar com a jovem, de modo um tanto desajeitado. O ponto alto na conversa inicial é justamente quando os dois se indagam a propósito do passado de cada um, das vivências obtidas até então. Por parte do Sonhador, nos importa precisamente essa fala:

– História? – exclamei assustado. – História? Mas quem lhe disse que tenho uma história? Eu não tenho história… – Então como é que viveu, se não tem história? – interrompeu ela, rindo. – Absolutamente sem qualquer história! Vivi assim, como se diz, para mim mesmo; isto é, absolutamente só, completamente só, sozinho.” (ibid., p. 28)

            Sua suposta não-história é substituída por um encadear de sonhos complexos, narrados para a sua recente colega. Ele diz, sem qualquer vergonha, que os melhores anos de sua vida foram perdidos em meio aos sonhos. A falta de ação revela o seu grande intelecto, “o senhor fala exatamente como se lesse um livro”, é o que diz Nástienka (ibid., p. 32). O mais curioso é que, na própria estrutura do livro, há uma passagem chamada A História de Nastiénka, enquanto que, por parte do Sonhador, temos algumas histórias sobre suas aflições em se relacionar com as pessoas. O que temos, em geral, é uma descrição mais precisa sobre o passado de Nástienka, uma história com lógica cronológica, ao passo que ficamos mais cientes das sensações do Sonhador em uma espécie de fluxo de consciência. O desejo de isolamento é força motriz para o Sonhador, o mesmo se vê feliz diante de Nástienka pois, nesse contato, pode mostrar todo o seu acúmulo de ideias e sonhos. Ele foge, porém, de sua história. Essa tentativa de negação tem o efeito contrário, é a própria história que nega o Sonhador. Não foi possível ter Nástienka como namorada, o primeiro ato que seria impresso em sua biografia além do vasto repertório de sonhos desmancha no ar, a história se subsume no sonho, mais uma vez. Nástienka preferiu aquele com quem compartilhou um passado, ainda que imperfeito, histórico. Ao decorrer dos encontros entre os dois, uma pequena história se forma, mas sem a distância temporal necessária para uma melhor reflexão. Há uma maior fusão da história de Nástienka com a do inquilino que fica hospedado na casa de sua avó. Essa fusão de horizontes, que na hermenêutica é precisamente o momento crucial para se estruturar a compreensão, é também elemento daquilo que Gadamer (2017, p. 396) chama de história efeitual. Isto é, se tentamos compreender algo passado, muito distante na temporalidade, é exatamente a fusão dos meus horizontes atuais com os do passado que permitem uma melhor compreensão. O passado se mostra como disponível, há algo passado a que posso olhar a partir de meus horizontes, são, precisamente, os horizontes do passado, da tradição. Esse passado que se faz imponente é assim precisamente pelo seu caráter de história efeitual, isto é, uma história já efetivada, que repercutiu seus efeitos. Nástienka não consegue compreender o Sonhador de forma efetiva, apesar de se dispor e até mesmo declarar seu amor. É a efetividade do inquilino que ecoa em sua consciência, os efeitos já causados, propagados ainda mais pela distância temporal.

O olhar metafórico para a natureza de Petersburgo eleva o coração do Sonhador ao sublime, e é lá mesmo que fica, na eternidade do contemplar. Nástienka gosta de sua sinceridade e inteligência, mas escolhe aquilo que tem substrato ontológico, o histórico que se perpetua na distância. O Sonhador funciona como paisagem petrificada, pode ser admirado, cultuado, mas se algo aproximar em demasia o toque, logo a história lhe recoloca na posição de observador. “Fiquei parado por muito tempo seguindo-os com o olhar… Até que, por fim, eles desapareceram de meus olhos.” (ibid., p.78). Seu destino acaba por ser o da observação.

Não há redenção para o Sonhador, esse se encontra em uma cadeia incessante de observação, é um perpétuo museólogo. As noites brancas representam bem sua interioridade, isto é, um lugar não muito escuro e também não muito claro, é a turbulência da visão que o faz se alegrar com “um momento inteiro de júbilo! Não será isso o bastante para uma vida inteira?” (ibid., p. 82). O final do livro não poderia ser mais interessante para nós. Com a história reiniciando o seu estado primordial, o de observador, o Sonhador nota algo diferente em sua criada e no espaço ao seu redor. O sonho acaba por rachar e evidenciar um horizonte melancólico, tudo lhe surge fragmentado e distorcido. A falta de historicidade lhe dispara um mundo em ruínas, o tempo parece passar rapidamente e o Sonhador não percebe o seu devir, o salto se dá sem ser visto. O seu mundo onírico é sustentado pela esperança de fazer algo além de observar, assim que é reiniciado à mera observação, vemos o seu mundo verdadeiro, já despedaçado. Dostoiévski (ibidem.) descreve o quarto do Sonhador como um espaço completamente desbotado, sua criada parece mais velha, tudo parece distante e insípido. É quase como se o passado ganhasse vontade e se fundisse à consciência do Sonhador, que não aguenta ver em retrospecto as próprias vivências, que surgem a partir do gatilho angustiante de não poder ficar com Nástienka. Seria o seu encontro com Nástienka um sonho? Desdobrar mental em busca da própria salvação? É na imagem mental, no entanto, que o Sonhador fica feliz, ele se apresenta quase como um artista, esculpindo o sonho perfeito ao seu redor, essa localidade lhe imprime a distância com a realidade, uma história sem efetividade, mas parece que, ao final, os efeitos saltam aos olhos do Sonhador, que acaba por se apegar ao júbilo e à beleza do instante.

Referências bibliográficas:

DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Noites Brancas. São Paulo: Editora 34, 2016.

GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método I. Rio de Janeiro: Vozes, 2017.

Dark e o círculo hermenêutico

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O paradoxo de bootstrap, também conhecido como paradoxo ontológico, é um conceito que permeia toda a série Dark. Em síntese, um objeto que viaja no tempo, ao passado, pode existir sem ter sido criado. Antes, a sua existência é constituída no momento que retrocede no tempo e, quando enfim atingir o ponto no tempo em que foi mandado para trás, torna-se aquele mesmo objeto, sem uma causalidade explícita, ou ainda, a viagem é a causa. Posso, por exemplo, fabricar uma caneta. A sua gênese é evidente, com minhas próprias mãos criei o objeto. Se a mando ao passado, digamos, quando canetas ainda não existiam, alguém pode pegar o tal objeto e pensar na fórmula constituinte da caneta. Esse conhecimento apropriado no passado é o mesmo que vai me levar a fazer a caneta, aquele momento em que fabriquei com minhas mãos. Em síntese: o futuro influenciaria o passado, diretamente. A caneta que enviei ao passado, no entanto, persiste como objeto não-criado, não há um fabricante da caneta naquele tempo passado, mas ainda assim ela existe. Esse interessante paradoxo da ficção desperta grande interesse na física, a exemplo do físico Matt Visser que escreveu o artigo “Lorentzian Wormholes: From Einstein To Hawking”, de 1995. Temos vários exemplos do paradoxo durante a série Dark,  quando como Ulrich entrega o livro “Uma viagem através do tempo” para o próprio autor (Tannhaus), em um tempo anterior à sua escrita. Ou ainda quando o Jonas mais velho impede o Jonas adolescente de levar Mikkel, seu amigo, ao seu tempo, tendo em vista que Mikkel virá a ser o seu pai. Aqui, antes de mais nada, nos interessa as possibilidades ontológicas de tal paradoxo, que nos leva aos filósofos estudiosos da temporalidade.

Antes de entrarmos de fato no círculo hermenêutico, um conceito do filósofo Walter Benjamin nos surge como interessante. Em Origem do drama trágico alemão, Benjamin (2016, p. 34-37) diferencia origem (Ursprung) de gênese (Entstehung). Enquanto a gênese marca a completude e acabamento do objeto em sua forma, como no exemplo da caneta fabricada, a origem é algo que surge do processo de devir e desaparecer. Com a caneta, por exemplo, pode ser originada uma forma de lhe segurar, mas isso acaba por desaparecer nos diversos usos que a caneta recebe durante o tempo. Ou, de modo mais interessante, posso fabricar uma espada e lhe dar um fino acabamento, gênese. Como origem dela, no entanto, pode estar um dado incompleto e inacabado, não atingido, a exemplo de que a espada, em realidade, tinha o propósito de proteger um povo oprimido. Essa designação acaba por se perder completamente na história, torna-se uma ruína, de modo que a origem fica suspensa, mas a gênese persiste. Nesse sentido, o livro História e narração em Walter Benjamin nos fornece uma boa compreensão:

“A dinâmica da origem não se esgota na restauração de um estádio primeiro, quer que tenha realmente existido ou que seja somente uma projeção mítica no passado; porque também é inacabamento e abertura à história, surgimento histórico privilegiado o Ursprung não é simplesmente restauração do idêntico esquecido, mas igualmente, de maneira inseparável, emergência do diferente.” (GAGNEBIN, 2004).

Realizar um movimento originário, pois, não é só restaurar aquelas ideias que ficaram suspensas, mas é também verificar nelas uma possível atualidade, um reencontro. A espada que, digamos, em 1400 serviu para salvar um povo oprimido, pode em 2020 encontrar uma mesma estranha atualidade. A origem revela, pois, uma estrutura, a saber, nas palavras de Benjamin (2016, p. 34), ela resguarda em si a pré-história e a pós-história, sendo aquela a revisita ao passado, a restauração do idêntico esquecido, e esta, a emergência do diferente, algo ainda incompleto, inacabado. Uma origem suspensa pode vir ao encontro das ideias da atualidade, e isso por que ela já foi, em princípio, repassada enquanto ideia, comunicada entre as pessoas. “A representação de uma ideia não pode em caso algum dar-se por conseguida antes de se ter percorrido virtualmente todo o círculo de todos os extremos nela possíveis.” (ibid., p. 35). Aqui nos importa, principalmente, a ideia de círculo que Benjamin evoca, que costura um interessante entremeio com a hermenêutica. Antes de realizarmos esse passo, porém, é possível visualizar um ponto de interesse com o paradoxo de bootstrap, que é o fenômeno que circunda e justifica toda a série Dark. Assim como a origem surge do processo de devir e desaparecer, muitos dos personagens enfrentam a mesma situação. Jonas, por exemplo, em seu devir de viajante do tempo, acaba nesse entremeio de pré-história e pós-história, desaparecendo de um e indo ao outro, revelando a emergência da diferença e testemunhando a restauração do idêntico, em uma circularidade paradoxal. No caso, a própria genealogia é posta em jogo, como quando Mikkel, o pai de Jonas, se suicida ao ver que seu eu criança está vivendo na vizinhança. Sua morte é o resgate da origem circular, ele precisa se matar para que seu eu criança vá ao passado e conceba Jonas, a genealogia acaba por encontrar a ruína máxima, uma origem que precisa desaparecer para então reaparecer em outro momento. Ursprung – sprung significa “salto”, enquanto urs nos remete ao “originário”. Temos origem também em sentido de salto, como se esta pudesse cortar o espaço e viajar pelo tempo.

Temos uma estrutura parecida com a da viagem no tempo, mas nos fenômenos próprios da consciência. Para tanto, devemos ver as contribuições de Edmund Husserl ao estudo da temporalidade, estas que servem de preâmbulo ao círculo hermenêutico. Usaremos aqui as reflexões das suas Lições para uma fenomenologia da consciência interna do tempo. Assim como Benjamin indica uma circularidade nas representações das ideias, Husserl nos aponta para o fenômeno circular dos instantes temporais. Quando percebo o voo de um pássaro, cada instante é retido por minha consciência. É característica do voo que ele vá de um ponto para outro, todo esse caminho percorrido é retido em minha consciência. Cada 1 centímetro de deslocamento do pássaro é para minha consciência uma nova impressão, de modo que existe um horizonte de protenção, isto é, é necessário que um outro instante vá suceder esse instante que percebo, e é também necessário que, assim que ele chegar, ele seja retido pela consciência, se afundando cada vez mais no passado. Digamos que o pássaro saia do meu alcance de visão e eu não consiga mais percebê-lo. Agora, resta-me a recordação, a lembrança de todo aquele voo movimentado. Ao recordar, torno novamente presente tudo o que retive, isto é, o passado se torna o presente em minha memória, e não só, toda a captura que fiz com a consciência indica também o futuro daquela lembrança. Quer dizer, se eu vi o pássaro se deslocar 10 centímetros para direita, eu posso me lembrar de cada um desses instantes durante o deslocamento, e o fato de, pela recordação, eu conseguir projetar de novo o movimento, eu visualizo o futuro da própria recordação, consigo ver tudo aquilo que foi protenção agora em minhas retenções, com o fato de que uma expectativa agora surge. Posso, por exemplo, na memória, enquanto lembro as imagens, ter a expectativa de um movimento mais brusco que o pássaro fez. Nesse sentido, a memória não é só um mecanismo de retenções, mas também uma forma de colocar em movimento novamente toda a cadeia de impressões, retenções e protenções. A impressão que tenho do pássaro se tornará retenção, indo aos confins da consciência, ao passado, e cada impressão contém uma protenção, no sentido de que novas impressões surgirão, necessariamente. A protenção futura se torna a retenção passada, influenciando no modo que retenho as coisas. Dessa maneira, podemos dizer que o futuro influencia diretamente o passado, é a garantia do próprio passado ser retido, pois a retenção é feita sempre em um instante posterior. A própria reflexão, como Husserl (2017, p. 178-180) aponta só é possível graças à impressão originária, visto que essa será retida. A reflexão só surge quando o dado é retido, só podemos raciocinar sobre aquele algo quando ele, de algum modo, ainda que muito pouco, já passou do instante perceptivo. Quer dizer, só posso refletir sobre o movimento do pássaro quando este já foi retido, e isso revela uma interessante circularidade. O fato de que reflito indica que recordo que recordo, quer dizer, eu não simplesmente recordo, mas posso desviar minha atenção para o fato de que estou recordando. Estar consciente da própria recordação, mais uma vez, coloca em jogo toda a cadeia impressão-retenção-protenção. Essa é a circularidade da consciência, daquilo que Husserl chama de fluxo de consciência.

Isso nos importa no sentido de que Dark evidencia isso em um modo radical. O círculo de saltos (Ursprung) revela uma origem perdida dessas consciências. É como o caso de Jonas, que, aparentemente, é Adam, sua versão futura que não se importa com nada mais além da destruição do fluxo circular. Temos uma frase bem reveladora de Jonas, em sua versão adulta, antes de Adam, que diz algo como isso: “Não somos livres em nossas atitudes porque não somos livres nos nossos desejos.” A ideia do Jonas adolescente, isto é, de salvar as pessoas que ama, acaba vertendo para uma outra dimensão, quase que impessoal, algo quase messiânico, visto o seu novo nome (Adão). Aqui temos um bom gancho para o círculo da compreensão, isto é, o círculo hermenêutico, que é também constituído pela reflexão dos próprios instantes perceptivos da consciência, o fluxo de consciência.

Gadamer, o principal teórico do círculo hermenêutico, nos diz (2017, p. 356) que a compreensão é sempre a elaboração de um projeto prévio. Quer dizer, quem compreende, compreende já de algum lugar, com certos preconceitos, opiniões prévias, estas sempre em algum caráter reflexivo, de maior ou menor grau. É justamente a primeira condição hermenêutica a pré-compreensão (ibid., p. 390). Compreender é, também, um movimento que alcança um momento em que as opiniões não são arbitrárias. Gadamer nos diz que é precisamente a distância temporal que nos permite filtrar os conteúdos mais interessantes para a compreensão. Vemos muito disso em Dark, quanto mais se afundam na distância passada, maior o entendimento dos personagens, assim como o nosso, os espectadores. Quer dizer, a genealogia se mistura de tal forma pelo círculo de saltos (Ursprung) que a própria compreensão é colocada em círculo, que é a própria forma estrutural da compreensão. Isto é, compreendemos uma coisa quando podemos livremente voltar ao seu domínio, podemos novamente interpretar, visualizar, enxergar. A compreensão surge também enquanto círculo, assim como o aprendizado de uma língua. O que a série mostra, porém, é um círculo temporal de grande largura. Essas distâncias carregam em suas constituições o horizonte temporal, que é aquela mesma coisa que constitui as retenções e protenções. Isto é, há sempre algo no mundo a ser retido e protendido, instantes infinitos que, a qualquer momento, podem receber o raio de minha atenção. Os personagens se compreendem nesses horizontes, a partir de uma pré-compreensão que se torna compreensão, à medida que vivenciam seus destinos circulares. O círculo hermenêutico, no entanto, é algo de positivo, somos inseridos nele de tal forma que podemos produzir novos conteúdos, novas compreensões, novas interpretações. Assim também ocorre em Dark, mas em um sentido muito determinista, onde os personagens buscam o fim ou a perpetuidade do círculo. Resta-nos saber, agora com a terceira temporada, se o círculo manterá seu sentido vicioso ou irá receber a plenitude do círculo que ensina e projeta cada indivíduo em uma autocompreensão.

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Referências bibliográficas:

BENJAMIN, Walter. Origem do drama trágico alemão. São Paulo: Autêntica, 2016.

GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método I. Rio de Janeiro: Vozes, 2015.

GAGNEBIN, Jeanne Marie. História e Narração em Walter Benjamin. São Paulo: Perspectiva, 2004.

HUSSERL, Edmund. Lições para uma fenomenologia da consciência interna do tempo. Rio de Janeiro: Via Vérita, 2017.

 

 

Os 5 melhores filmes da diretora Yuliya Solntseva

Muito além de ser a “mulher de Dovzhenko”, Solntseva tem estilo próprio, desde o poético Zacharovannaya desna até o épico Povest plamennykh let, Solntseva combina a sensibilidade de suas experiências com o rigor da decupagem russa.

5. Yegor Bulychyov i drugiye (1953)

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Yegor Bulychyov enfrenta uma doença terminal. Em casa, cercado por pessoas vazias e gananciosas, espera ansiosamente por sua morte. Filme que retrata a resiliência do povo russo e a capacidade crítica frente ao liberalismo.

4. Poema o more (1958)

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Histórias interconectadas de cidadãos soviéticos tentando construir um novo futuro após a Segunda Guerra Mundial. Memórias do passado, sonhos dos jovens e resíduos da classe se misturam e se chocam.

3. A epopeia dos anos de fogo (1961)

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No início do verão de 1941, as tropas alemãs penetram na Rússia, causando destruição humana e material. Ivan Orlyukov, um jovem russo, pega nas armas e se levanta contra o invasor. Ele não está sozinho: um povo inteiro luta com ele e consegue, através de seu próprio sacrifício, expulsar os nazistas do país.

2. Nezabyvaemoe (1967)

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Uma jovem russa pede a um soldado do Exército Vermelho que passe a noite com ela após a invasão nazista. Temendo que ela possa morrer em breve, a mulher espera uma noite de romance antes do que poderia ser uma morte horrível.

1. Zacharovannaya desna (1964)

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Durante a Segunda Guerra Mundial, um escritor está atravessando o rio Desna junto com soldados soviéticos. Ele se lembra de sua infância feliz passada no mesmo lugar. Obra-prima de Solntseva, filme memorialista e biográfico sobre Dovzhenko.

 

 

A propósito da mentira em Nietzsche e em Dostoiévski

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Como podemos aproximar a filosofia de Nietzsche com a literatura de Dostoiévski? Além de uma rápida menção em seu livro Crepúsculo dos Ídolos, no excerto de número quarenta e cinco dos Passatempos intelectuais, há um curioso conceito que podemos analisar entre os dois autores. Para que fique claro, a menção de Nietzsche é precisamente aquela famosa, em que diz que Dostoiévski é o único psicólogo que pode lhe ensinar alguma coisa. Além da admiração, o fato realmente curioso é que, no ano de 1873, ambos os autores escreveram importantes textos sobre a mentira. Enquanto Dostoiévski publicava no jornal O cidadão o texto de título Algo sobre a mentira, este que, posteriormente, seria incluso em seu Diário de um escritor, Nietzsche também escrevia o homônimo Sobre verdade e mentira no sentido extra-moral, publicado postumamente.

Não obstante a conexão temporal, que por si nos interpela em sua curiosidade, o que realmente aproxima os autores é o conteúdo e teor dos textos. Apesar do texto de Nietzsche ser bem maior em sua análise, podemos observar algumas semelhanças com o texto de Dostoiévski. Em realidade, muitas das obras de Dostoiévski, anteriores ao próprio Diário de um escritor, teciam comentários longos a propósito da mentira. Temos, por exemplo, o mentiroso compulsivo General Ívolguin, em O idiota, os comentários de Razumíkhin, em Crime e castigo, os dizeres do homem do subsolo, em Memórias do subsolo. São também célebres as passagens do mestre Zossima em Os irmãos Karamázov, este livro, porém, já é posterior ao Diário. Esse tema recorrente em toda obra do escritor russo ganha uma tonalidade especial no Diário, pois ali Dostoiévski disserta acerca do conceito sem um personagem como intermediário, o que o autor realmente pensa está ali impresso sem ambiguidades.

 Vejamos um pouco do que está impresso em Algo sobre a mentira:

Na realidade, as pessoas agem de tal modo que todas as mentiras que a razão humana diz e rediz a si própria são mais compreensíveis do que a verdade, e isso acontece no mundo inteiro. A verdade foi posta na mesa diante dos homens há centenas de anos, mas eles não se servem dela, e perseguem o inventado, porque o que eles consideram fantástico e utópico é justamente a verdade. (DOSTOIÉVSKI, 2016, p. 220).

Na mesma página, Dostoiévski coloca que a verdade é muito tediosa e prosaica, não poética ao povo russo. A mentira existe como uma espécie de contrato onde as informações trocadas, aumentadas ou não, não devem ser desmanchadas em favor da verdade, há uma espécie de reciprocidade na mentira (ibid., p. 221). Dostoiévski (ibid, p. 219), no entanto, nos dá como exemplo de mentira alguns casos não muito preocupantes, como a quantidade de quilômetros que uma pessoa percorreu para realizar tal objetivo. Há uma tendência em aumentar a verdadeira quantidade, de modo a causar uma impressão estética no ouvinte (ibidem.).

Nietzsche nos apresenta uma análise mais sofisticada, colocando que a mentira (2007, p. 30) realizada de modo individualista e nocivo logo encontra a desconfiança da sociedade, que por sua vez passa a excluir o tal sujeito. Nietzsche é detalhista ao expressar que não é o engano que há na mentira que a torna nociva, mas as consequências hostis, ruins em certos tipos de engano. Se um sujeito mente para tirar proveito de outra pessoa, para prejudicá-la diretamente, então é uma mentira individualista e nociva, mas se mente para aumentar um fato como o número de horas estudadas, o número de quilômetros percorridos, então é um tipo de engano estético, um agrado ao ouvinte, como nos lembra Dostoiévski. O que aqui nos importa é a potencialidade desse se deixar enganar.

Nietzsche (ibid., p. 31) analisa os meandros da linguagem para nos indicar que acessamos a verdade de modo subjetivo, como quando dizemos que a pedra é dura, só sabemos que há ali uma pedra e que ela é dura na experiência subjetiva. Palavras não passam de metáforas para Nietzsche, posto que só sabemos o que vem a ser a dureza e a própria pedra de modo subjetivo. O exemplo dado pelo filósofo (ibidem.) é o de que as várias línguas existentes no mundo nomeiam a coisa, por exemplo, a pedra, em sons diferentes, isto é, palavras diferentes em línguas distintas. Todas as palavras se referem à pedra, mas não há nisso uma verdade em sentido universal, há simplesmente uma palavra que se adequa à coisa, isto é, algo como uma metáfora (ibid., p. 36-37), metonímia ou antropomorfismo. Nietzsche vai generalizar (ibidem.) a verdade como um exército móvel dessas metáforas, isto é, convenções acordadas em sociedade que se sofisticam em realces poéticos e retóricos até atingirem graus ilusórios de verdade. Para entendermos a própria matemática, nos utilizamos dessas aproximações linguísticas, isto é, a linguagem matemática, criada a partir de nossa subjetividade para interpretarmos uma realidade objetiva. A verdade de que há um mundo objetivo anterior à humanidade é facilmente observável na astronomia e biologia, mas disso nada podemos extrair sem o acesso interpretativo da subjetividade, das metáforas, de modo que a tal realidade objetiva seria um dado simplesmente morto, sem o acréscimo da plenitude das experiências.

Continuando no raciocínio, vejamos um pouco das palavras do próprio filósofo:

Ainda não sabemos donde provém o impulso à verdade: pois, até agora, ouvimos falar apenas da obrigação de ser veraz, que a sociedade, para existir, institui, isto é, de utilizar as metáforas habituais; portanto, dito moralmente: da obrigação de mentir conforme uma convenção consolidada, mentir em rebanho num estilo a todos obrigatório. (NIETZSCHE, 2007, p. 37)

            O impulso à verdade nasce das convenções acordadas a partir das metáforas, isto é, uma espécie de engano, de se deixar enganar que tais coisas são importantes e fascinantes. É esse se deixar enganar, no entanto, que nos encaminha para o sentimento da verdade (ibidem.), isto é, o de estarmos de acordo com os hábitos, com a linguagem, com as aproximações que fazemos para interpretar as coisas em si mesmas, um engano que nos deixa mais próximos das coisas. Verdade ser metáfora não indica um caráter pejorativo desta mas mostra que é através do engano que chegamos até ela, através de uma espécie de esquecimento da palavra, Nietzsche não usa a palavra esquecer-se arbitrariamente nessa mesma página. Aquilo que é verdade para nós é o que nos é legado pela linguagem, ainda que sejam verdades da natureza, só podemos acessá-las em nossa linguagem de antropomorfismos, para lembrar o dizer de Nietzsche.

A mentira, ou melhor, o engano por trás da mentira tem a capacidade de engrandecer o sujeito, capacidade de revelar algumas verdades inatingíveis na retidão do entendimento. Dostoiévski (2016, p. 220), acerca disso, até mesmo diz que quando um doente encontra um ouvinte é impossível para ele não mentir, e é justamente na mentira que ele pode até se curar, há uma grandeza tal que se aproxima da esperança. É nesse sentido que Nietzsche diz que a vida sem a arte seria um erro, um algo insuportável, pois a arte possui esse dom de nos enganar e nos impulsionar para verdades que só pela via do engano são possíveis. Quando choramos a morte de um personagem virtuoso ou comemoramos a morte de um vilão terrível em um livro ou filme, estamos ali nos deixando enganar acerca da realidade daqueles fatos, eles nos surgem de modo tão potente que, às vezes, lamentamos mais a morte do tal personagem do que a morte de um ente querido, um parente. A arte nos engana em um nível que achamos que compreendemos tudo sobre aquela história, compartilhamos dos sentimentos do personagem, entendemos seus objetivos, de um modo às vezes mais real do que o entendimento que temos de um avô, tio ou qualquer parente. Essa autorização que damos ao engano revela como são potentes as nossas sensações, engrandecidas e nobres, coisa que a realidade por si atinge com dificuldade. É nesse sentido que a arte, enquanto engano e espécie de mentira, pode ser mais real e efetiva do que a própria realidade vivida. Com um certo tipo de arte, por exemplo, podemos ser de tal forma imbuídos de grandeza que tomamos ações realmente virtuosas na realidade. Quando Platão no livro X da República nos diz que Homero foi a fonte que educou toda a Grécia, está também nos mostrando que livros ficcionais, aqui tomando licença para assim designá-los, sobre deuses e batalhas épicas foram a fonte primordial do ensino, isto é, as pessoas viviam em um acordo mútuo de que o que está escrito em Homero é a verdade. Esse se deixar enganar pela literatura de Homero foi o que encaminhou os gregos à verdade deles, aos hábitos e adequações, pois não há prejuízo aos indivíduos, não é uma mentira para alguém tomar proveito, mas um engano que entrevê a verdade, um engano pedagógico, de ensino.

 No entanto, o próprio homem tem uma inclinação imbatível a deixar-se enganar e fica como que encantado de felicidade quando o rapsodo narra-lhe contos épicos como se estes fossem verdadeiros, ou, então, quando o ator, no espetáculo, representa o rei ainda mais soberanamente do que o exibe a efetividade. O intelecto, esse mestre da dissimulação, acha-se, pois, livre e desobrigado de todo seu serviço de escravo sempre que pode enganar sem causar prejuízo, e festeja, então, suas Saturnais; nunca ele é mais opulento, rico, orgulhoso, versátil e arrojado. (NIETZSCHE, 2007 p. 48)

Podemos, com isso, ver a aproximação forte com a escrita de Dostoiévski quando este comenta a mentira como um artifício estético, como algo muito mais fácil de ser compreendido do que a verdade. Nesse entendimento, porém, reside um perigo terrível. Dostoiévski (2016, p. 24) na introdução de seu Diário nos profetiza uma desgraça que recairia sobre as pessoas, isto é, a de que quem mostra com sinceridade ter compreendido alguma coisa, que mostra esforço para atingir um tal entendimento é desprezado e posto em uma constante sessão de diminuição, tomando os esforços da pessoa como algo ridículo. Como a verdade recebe um status utópico, inatingível, qualquer pessoa que ousar dizer ter compreendido, ter visto uma verdade acaba encontrando inevitáveis detratores. Não é a verdade que interessa, mas sim o engano, a forma impessoal e cautelosa do engano, se alguém demonstrar uma compreensão, que quase sempre é difícil e demorada, logo perdem o interesse. Nesse caso, o se deixar enganar não tem uma forma artística, mas sim um modelo de desonestidade intelectual, de fatalismo e obscuridade. É a mentira usada para dar à verdade um grau inatingível, um grau que só os “eleitos” podem atingir. É algo como isso que Dostoiévski coloca como niilismo, uma forma de reduzir conceitos ao nada, em reduzir entendimentos à esfera do vazio. Dostoiévski combate veementemente esse conceito, especialmente em Os demônios e Os irmãos Karamázov. Esse se deixar enganar pelo nada, onde nada é certo, onde não há verdades atingíveis além do vazio, do absurdo é uma espécie de caminho que nos leva ao desprezo das boas compreensões, dos bons estudos e esforços. Dostoiévski, como bom cristão, vê a mentira com um olhar negativo, mas acaba também nos dando pistas de que ela nos leva a um tipo de verdade, como quando Raskolnikóv mente a si mesmo acerca do bem que faria matando Aliona Ivânovna e, após o assassinato, que estava tudo bem consigo mesmo. Vemos, no decorrer da história, que essas mentiras encaminharam ele à redenção, à verdade que até então não enxergava, ou, pelo menos, à metáfora dessa verdade.

Em Algo sobre a mentira, podemos ver um tipo de mentira que não leva ao niilismo, mas somente ao acordo mútuo entre sujeitos sobre coisas que não prejudicam ao próximo, algo muito parecido com o que Nietzsche chama de engano sem prejuízo. Aquele que desmente um sujeito que aumentou o número de quilômetros que percorreu em um dia é um estraga prazeres, alguém que nega entrar no jogo. Algo sobre a mentira mostra que há uma reciprocidade nessa mentira, que tem a forma de narrativa, de literatura, quase uma espécie de arte. É esse engano que nos interessa, o que possibilita novas formas de entendimento, de engrandecimento do que há de melhor na humanidade, da potencialidade das sensações e da compreensão do real através da arte. Cito: “Vivemos, com efeito, numa ilusão contínua através da superficialidade de nosso intelecto: para viver, precisamos da arte a todo instante. ” (NIETZSCHE, 2007, p. 58)

Referências:

DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Diário de um escritor. São Paulo, Hedra, 2016.

NIETZSCHE, Friedrich. Sobre verdade e mentira no sentido extra-moral. São Paulo, Hedra, 2007.

Chernobyl (ou a filosofia da crise)

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A explosão de um reator nuclear coloca a humanidade em urgência. É a própria humanidade o núcleo destruído, isto é, o centro que eclode na crise impensável, em um agir irresponsável. O núcleo da oração – o ser – se perde em face da infinitude de conjugações, o verbo que identifica é o mesmo que distancia. A identidade desmancha com a química, esta que manipulamos e também nos manipula – guerra de naturezas.

A guerra não manifesta a exterioridade e o outro como outro; destrói a identidade do Mesmo. (LEVINAS, Totalidade e Infinito, p.10)

Essa urgência coloca milhares de pessoas frente à própria identidade, devem abandonar as rotinas e aguentar o turbilhão totalizante de uma política estranha. Não obstante, não há uma crise somente da identidade, mas também da urgência. Consumada a explosão, a primeira atitude visada é a supressão do erro, da informação. Urgente é manter as aparências, o cálculo com os sinais corretos. A preocupação com a vida é a última a surgir, isto quando a informação torna-se internacional. A vida só é importante quando difundida na linguagem. Quer dizer, a urgência para com os indivíduos nasce no eclodir da informação, o serviço deve ser mostrado. Como passe de mágica, o resultado da equação deixa de ter um sinal negativo e ganha um positivo. Temos aqui, antes de um imperativo do resgate, uma interpretação valorativa. O valor às vidas foi adicionado quando uma abstração sofreu ataque, isto é, quando o ideal de uma nação foi posto em evidência.

A ingenuidade do discurso sobre a “objetividade” que deixa inteiramente fora de questão a subjetividade que experiencia e que conhece, a subjetividade realizadora de modo efetivamente concreto, a ingenuidade do cientista da natureza ou do mundo em geral, que é cego para o fato de que todas as verdades por ele objetivamente adquiridas e que o próprio mundo objetivo (tanto como mundo quotidiano da experiência quanto como mundo cognoscitivo conceitual, de nível superior), o qual nas suas fórmulas é o substrato, é a configuração da sua própria vida, configuração surgida nele mesmo – tal ingenuidade não é mais possível, é claro, logo que a vida se coloca no foco da visão. (HUSSERL, A crise das ciências europeias e a fenomenologia transcendental, p. 78)

Husserl nos mostra que a crise das ciências está calcada na crise da filosofia. Psicologismos, dualismos, monismos, positivismos, humanismos, são tantas as vertentes que acabamos por nos esquecer daquilo que é de fato o primevo: o ser e a sua relação com o mundo. Se a urgência para com a subjetividade for o foco, a objetividade estará garantida. O esquecimento dessa vivência/situação se espalha pelos conceitos, gerando pessoas obcecadas por fatos racionais, não erigidos na própria base da relação ser-mundo. Sem qualquer dificuldade, encobrir os sofrimentos desses que estão aí no mundo se torna matéria corrente. É o que vemos durante a série, toda uma arquitetura para tentar suprimir os fatos.

“Não se pode viver na Terra sem mentir, pois vida e mentira são sinônimos;” (DOSTOIÉVSKI, Diário de um escritor, p. 103)

Algo interessante que Dostoiévski nos mostra em seu Diário é justamente o problema da comunicação em sua época, ou seja, século XIX. Levando o problema ao extremo, Dostoiévski nos apresenta o conto Bóbok, dentro do próprio Diário. O conto dá voz aos mortos, querem voltar a vida, mas a comunicação falha mesmo no pós-morte, acabam não chegando em lugar algum. A frase citada acima se dá justamente no final de Bóbok, a mentira tantas vezes repetida faz a vida brilhar um pouco para aqueles que cobiçam existir mais uma vez. Chernobyl começa e termina nos colocando nesse horizonte de verdades e mentiras, apontando para o quão fácil é perder a referência. Bóbok é uma sátira, antes de tudo, trata de mostrar que a mentira pode dar uma boa vida para aqueles que nada sabem comunicar, que vivem uma existência vazia. A ciência positiva chegou a tal ponto, como Chernobyl nos mostra, que uma crise de proporções mundiais pode ser driblada para satisfazer a megalomania de uma aparência, de uma guerra à distância. Não à toa a internet teve seu boom na década de 90, ao fim da Guerra Fria, a frieza, na verdade, se perpetua até agora, pelas redes, assim também é a distância.

 

REFERÊNCIAS:

DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Diário de um escritor. São Paulo: Hedra, 2016.

HUSSERL, Edmund. A crise das ciências europeias e a fenomenologia transcendental. Rio de Janeiro. Forense: 2012.

LEVINAS, Emmanuel. Totalidade e Infinito. Lisboa: Edições 70, 1988.

 

 

Os 40 melhores filmes adaptados da literatura brasileira

40. Kuarup (1989)

Direção: Ruy Guerra

Autor: Antônio Callado

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Nando, um padre pernambucano em crise existencial, relembra dez anos de sua vida (1954-1964), como seu envolvimento político pouco antes do golpe de 1964, a sobrevivência na clandestinidade e a luta contra as tentações da carne, simbolizadas na paixão irreprimível por uma jovem, Sônia, que está sendo procurada por uma expedição, que saiu em seu socorro

39. Noites do Sertão (1984)

Direção: Carlos Alberto Prates Correia

Autor: Guimarães Rosa

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Década de 50. Lalinha, ultimado o desquite, aceita o convite do sogro viúvo para viver na fazenda do Buriti Bom, sertão de Minas. As duas cunhadas lhe oferecem carinho. Glória, a mais nova, se apaixona por um veterinário e Lalinha passa a acompanhar as desditas da família: morte, insônia, paixões caladas, estórias da natureza e do homem, ciúmes, esperanças.

38. Netto Perde Sua Alma (2001)

Direção: Beto Souza, Tabajara Ruas

Autor: Tabajara Ruas

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Antônio de Souza Netto é um general brasileiro que é ferido em plena Guerra do Paraguai e agora está se recuperando no Hospital Militar de Corrientes, na Argentina. Lá ele percebe que coisas estranhas estão ocorrendo ao seu redor, como o capitão de Los Santos acusar o cirurgião de ter amputado suas pernas sem necessidade e reencontrar um antigo camarada, o sargento Caldeira, ex-escravo com quem lutou na Guerra dos Farrapos, ocorrida algumas décadas antes. Juntamente com Caldeira, Netto rememora suas participações na guerra e ainda o encontro com Milonga, jovem escravo que se alistara no Corpo de Lanceiros Negros, além do período em que viveu no exílio no Uruguai.

37. A Missa do Galo (1982)

Direção: Nelson Pereira dos Santos

Autor: Machado de Assis

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Passado numa noite de Natal no Rio de Janeiro, no final do século XIX, o surgimento de uma platônica e não-consumada relação entre uma tia e seu sobrinho. Baseado no conto homônimo, do livro Páginas Recolhidas, de Machado de Assis

36. Tropa de Elite (2007)

Direção: José Padilha

Autores: Rodrigo Pimentel, Luiz Eduardo Soares

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1997. O dia-a-dia do grupo de policiais e de um capitão do BOPE (Wagner Moura), que quer deixar a corporação e tenta encontrar um substituto para seu posto. Paralelamente dois amigos de infância se tornam policiais e se destacam pela honestidade e honra ao realizar suas funções, se indignando com a corrupção existente no batalhão em que atuam.

35. Paixão de Gaúcho (1957)

Direção: Walter George Durst

Autor: José de Alencar

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Época da guerra entre Legalistas e Farroupilhas. Chileno, um valente gaúcho, pede a mão de Catita ao seu pai, que só aceita o pedido após seu futuro genro lhe provar sua valentia. Ajudado pelo amigo Jan, Chileno recebe a permissão de se casar com Catita, mas diversos acontecimentos farão com que a moça se apaixone pelo amigo de seu noivo. Um desfecho trágico sela o amor dos dois.

34. Tenda dos Milagres (1977)

Direção: Nelson Pereira dos Santos

Autor: Jorge Amado

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A Bahia do século 20 e a forte mistura de raças e religiões são temas da adaptação do romance homônimo de Jorge Amado. A narrativa conta a história de Pedro Archanjo, intelectual autodidata que contestou ideias racistas.

33. Toda Nudez Será Castigada (1973)

Direção: Arnaldo Jabor

Autor: Nelson Rodrigues

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Em uma família tradicional Herculano (Paulo Porto), um homem puritano que só tinha tido uma mulher na vida, prometeu para Serginho (Paulo Sacks), seu filho, enquanto a esposa agonizava, que jamais teria outra mulher. Já o irmão de Herculano, Patrício (Paulo César Pereio), vive às custas do irmão e faz de tudo para que Herculano dependa cada vez mais dele e assim possa explorá-lo cada vez mais. Aproveitando uma crise de desespero do irmão, Patrício coloca junto à mesa de Herculano uma fotografia de Geni (Darlene Glória), uma cantora de inferninho e meretriz. Após se embebedar Herculano vai ao bordel, onde encontra Geni e passa a noite com ela. Porém, depois renega a ligação, mas ele e Geni já estão apaixonados. Herculano promete se casar com ela, mas para isto precisa fazer Serginho viajar. Porém, sentindo o que está acontecendo, Serginho se recusa a partir, mas algo ainda muito maior vai torturar Herculano.

32. Os Pastores da Noite (1976)

Direção: Marcel Camus

Autor: Jorge Amado

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O malandro cabo Martim vive sua vida facilmente pelas ladeiras de Salvador, acompanhado de seus amigos. Mas, as coisas mudam quando Otália, linda prostituta, vinda de um bordel do Bonfim, se apaixona por Martim.

31. Xica da Silva (1976)

Direção: Carlos Diegues

Autor: João Felício dos Santos

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O filme focaliza a trajetória de Xica da Silva, que de escrava, tornou-se a primeira dama negra de nossa história, seduzindo o milionário contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira. Promovendo luxuosas festas e banquetes, e exibindo grupos de teatro europeu, que se apresentavam nas salas de sua imensa casa, Xica da Silva ficou conhecida até na corte portuguesa. A ostentação atingiu aspectos surrealistas, quando João Fernandes de Oliveira satisfez o caprichoso desejo de sua amante de fazer uma viagem marítima sem sair da região, construindo um lago artificial e uma caravela manobrada por uma tripulação de dez homens.

30. Memórias Póstumas (2001)

Direção: André Klotzel

Autor: Machado de Assis

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Após ter morrido, em pleno ano de 1869, Brás Cubas (Reginaldo Faria) decide por narrar sua história e revisitar os fatos mais importantes de sua vida, a fim de se distrair na eternidade. A partir de então ele relembra de amigos como Quincas Borba (Marcos Caruso), de sua displicente formação acadêmica em Portugal, dos amores de sua vida e ainda do privilégio que teve de nunca ter precisado trabalhar em sua vida.

29. Quanto Vale Ou É Por Quilo? (2005)

Direção: Sérgio Bianchi

Autor: Machado de Assis

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Uma analogia entre o antigo comércio de escravos e a atual exploração da miséria pelo marketing social, que forma uma solidariedade de fachada. No século XVII um capitão-do-mato captura um escrava fugitiva, que está grávida. Após entregá-la ao seu dono e receber sua recompensa, a escrava aborta o filho que espera. Nos dias atuais uma ONG implanta o projeto Informática na Periferia em uma comunidade carente. Arminda, que trabalha no projeto, descobre que os computadores comprados foram superfaturados e, por causa disto, precisa agora ser eliminada. Candinho, um jovem desempregado cuja esposa está grávida, torna-se matador de aluguel para conseguir dinheiro para sobreviver.

28. O Invasor (2001)

Direção: Beto Brant

Autor: Marçal Aquino

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Estevão, Ivan e Gilberto são companheiros desde os tempos de faculdade. Além disto, são sócios em uma construtora de sucesso há mais de 15 anos. O relacionamento entre eles sempre foi muito bom, até que um desentendimento na condução dos negócios faz com que eles entrem em choque, com Estevão, sócio majoritário, ameaçando deixar o negócio. Acuados, Ivan e Gilberto decidem então contratar Anísio (Paulo Miklos), um matador de aluguel, para assassinar Estevão e poderem conduzir a construtora do modo como bem entendem. Entretanto, Anísio tem seus próprios planos de ascensão social e aos poucos invade cada vez mais as vidas de Ivan e Gilberto.

27. Brás Cubas (1985)

Direção: Júlio Bressane

Autor: Machado de Assis

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Brás Cubas, que vivera no século XIX, do além túmulo faz uma reflexão sobre sua vida de homem rico e descobre a evidência de ter sido um sujeito de existência medíocre. Suas memórias póstumas são um desfile de personagens que compõe um mosaico da sociedade brasileira arcaica e retrógrada, carente de razão humana, da qual Brás Cubas foi um expoente.

26. A Madona de Cedro (1968)

Direção: Carlos Coimbra

Autor: Antônio Callado

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Fininho recebe a visita de Adriano, um antigo amigo, que mora no Rio de Janeiro, trabalhando para o Dr. Vilanova, um homem muito rico. O recém-chegado diz que seu patrão pode oferecer um bom dinheiro ao Fininho, se este o servir bem. Acaba convidando seu amigo para conhecer o Rio em seu primeiro contato com o mar, quase morre afogado, mas é salvo por Marta, bela jovem, que o deixa fortemente atraído. Correspondido, decidem se casar. O casamento é adiado por problemas financeiros. Adriano, em nome do patrão, oferece a Fininho uma grande quantia, para que ele roube uma imagem sacra de uma igreja em Congonhas do Campo (MG).

25. Os Inconfidentes (1972)

Direção: Joaquim Pedro de Andrade

Autor: Tomás Antônio Gonzaga

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A Inconfidência Mineira – conspiração independentista do século dezoito, em Minas Gerais, centro das riquezas coloniais. Do grupo, faziam parte poetas e nobres, incluindo o padre e o coronel da guarnição. O dentista Tiradentes é torturado, para que divulgue a sua participação, na conjura contra a coroa portuguesa; os cúmplices haviam já confessado, negando responsabilidades próprias. Tiradentes é o único a assumir-se plenamente, sendo condenado à morte.

24. A Marvada Carne (1985)

Direção: André Klotzel

Autor: Cornélio Pires

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A Marvada Carne é um filme de 1985, produzido por Cláudio Kanhs, da Tatu Filmes, dirigido por André Klotzel e estrelado por Fernanda Torres, Adilson Barros e Regina Casé. Ganhou onze prêmios no Festival de Gramado, no mesmo ano em que foi lançado, incluindo Melhor Filme pelo Júri Oficial e pelo Júri Popular. A Marvada Carne é uma comédia que mostra as hilariantes aventuras de Carula (Fernanda Torres, num papel inesquecível), uma garota simples, do interior, que tem um grande sonho na vida: casar-se. E para isso ela está disposta a tudo.

23. Boca de Ouro (1963)

Direção: Nelson Pereira dos Santos

Autor: Nelson Rodrigues

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Prepotente e cruel, Boca de Ouro manda arrancar todos os dentes perfeitos, substituindo-os por uma dentadura de ouro. Ele também cultiva o sonho de ser enterrado num caixão de ouro só para recompensar o trauma de ter nascido numa gafieira, e de ter sido abandonado pela mãe numa pia de banheiro. Boca de Ouro começa apresentando seu protagonista, que acabara de morrer assassinado. O repórter Caveirinha, designado para descobrir a verdadeira história do marginal, vai entrevistar sua ex-amante, Guigui, que conta três diferentes versões da vida do bicheiro. Em todas elas, estão envolvidos Leleco, um malandro desempregado, sua mulher, Celeste e três ricaças.

22. A Ostra e o Vento (1997)

Direção: Walter Lima Jr.

Autor: Moacir C. Lopes

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A jovem Marcela (Leandra Leal) vive com seu pai, o faroleiro Jose (Lima Duarte), e o velho Daniel (Fernando Torres) numa ilha. O único contato da menina com o mundo exterior se dá através de uma embarcação com 4 marinheiros que regularmente vai levar-lhes provisões. Através das palavras de Daniel, que a ensina a ler e é sua fonte de ternura e conhecimento, e da severidade do pai, que quer protegê-la do resto do mundo, Marcela segue sua vida até que, ao tornar-se adolescente, passa a sentir sua sexualidade e seus anseios de viver de forma intensa.

21. A Navalha na Carne (1969)

Direção: Braz Chediak

Autor: Plínio Marcos

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O cafetão Vado entra de madrugada no quarto da prostituta Neusa Suely em busca de dinheiro, que descobre ter desaparecido. Para livrar-se das acusações de Vado, Neusa alega que o homossexual Veludo, seu vizinho, furtou o dinheiro. Os três personagens começam então a viver uma pequena tragédia ambientada no submundo carioca.

20. Meu Pé de Laranja Lima (1982)

Direção: Aurélio Teixeira

Autor: José Mauro de Vasconcelos

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Zezé é um pobre garoto de seis anos, que encontra um pé de laranja-lima no quintal do fundo da casa para a qual vai se mudar. Aquela delicada árvore se torna sua companheira, mas um dia terá que ser cortada…

19. Lavoura Arcaica (2001)

Direção: Luiz Fernando Carvalho

Autor: Raduan Nassar

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André (Selton Mello) é um filho desgarrado, que saiu de casa devido à severa lei paterna e o sufocamento da ternura materna. Pedro (Leonardo Medeiros), seu irmão mais velho, traz ele de volta ao lar a pedido da mãe. André aceita retornar, mas irá irromper os alicerces da família ao se apaixonar por sua bela irmã Ana. Um dos grandes filmes brasileiros da década de 2000, cheio de poesia visual.

18. A Hora da Estrela (1985)

Direção: Suzana Amaral

Autor: Clarice Lispector

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Macabéa é uma migrante nordestina semi-analfabeta que trabalha como datilógrafa numa pequena firma e vive numa pensão. Ela conhece o também nordestino Olímpico, um operário metalúrgico, e os dois começam a namorar. Mas Glória, uma colega de trabalho de Macabéa, rouba-lhe o namorado, seguindo o conselho de uma cartomante. Macabéa faz uma consulta à mesma cartomante, Madame Carlota, e esta prevê seu encontro com um homem rico, bonito e carinhoso. Urso de Ouro no Festival de Berlim para a atriz Marcelia Cartaxo.

17. O Que É Isso, Companheiro? (1997)

Direção: Bruno Barreto

Autor: Fernando Gabeira

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Em 1964, um golpe militar derruba o governo democrático brasileiro e, após alguns anos de manifestações políticas, é promulgado em dezembro de 1968 o Ato Constitucional nº 5, que nada mais era que o golpe dentro do golpe, pois acabava com a liberdade de imprensa e os direitos civis. Neste período vários estudantes abraçam a luta armada, entrando na clandestinidade, e em 1969 militantes do MR-8 elaboram um plano para seqüestrar o embaixador dos Estados Unidos (Alan Arkin) para trocá-lo por prisioneiros políticos, que eram torturados nos porões da ditadura.

16. Macunaíma (1969)

Direção: Joaquim Pedro de Andrade

Autor: Mário de Andrade

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Macunaíma é um herói preguiçoso, safado e sem nenhum caráter. Ele nasceu na selva e de preto, virou branco. Depois de adulto, deixa o sertão em companhia dos irmãos. Macunaíma vive várias aventuras na cidade, conhecendo e amando guerrilheiras e prostitutas, enfrentando vilões milionários, policiais, personagens de todos os tipos.

15. A Falecida (1965)

Direção: Leon Hirszman

Autor: Nelson Rodrigues

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A Falecida narra a história de Zulmira, mulher pobre do subúrbio que sonha com um funeral de luxo. Com interpretação notável de Fernanda Montenegro, em seu primeiro papel no cinema, o filme expõe a alienação da mulher que idealiza a própria morte como redenção para o vazio existencial. Este primeiro longa-metragem de Leon Hirszman já deixa antever a grande qualidade do realizador: a humanização dos personagens em luta contra o ambiente social hostil.

14. Morte e Vida Severina (1981)

Direção: Walter Avancini

Autor: João Cabral de Melo Neto

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Um incrível filme que foi teleteatro musical produzido pela TV Globo em 1981, dirigido por Walter Avancini, com versos de João Cabral, Melo Neto e música de Chico Buarque. A temática está centrada na trajetória de Severino, um retirante nordestino, que abandona o sertão rumo ao litoral em busca de sobrevivência. O autor deixa claro que não fala de um só Severino, mas de um grande grupo: os retirantes nordestinos, que têm todos a mesma sina, a morte e a vida severina: “Somos muitos Severinos, iguais em tudo na ida”. No decorrer do poema, Severino se põe a contar as durezas enfrentadas por essa gente: as jornadas para fugir da seca onde não nasce nem planta brava, em busca de terra que lhe dê o que comer.

13. Bicho de Sete Cabeças (2000)

Direção: Laís Bodanzky

Autor: Austregésilo Carrano Bueno

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Seu Wilson (Othon Bastos) e seu filho Neto (Rodrigo Santoro) possuem um relacionamento difícil, com um vazio entre eles aumentando cada vez mais. Seu Wilson despreza o mundo de Neto e este não suporta a presença do pai. A situação entre os dois atinge seu limite e Neto é enviado para um manicômio, onde terá que suportar as agruras de um sistema que lentamente devora suas presas.

12. O Cangaceiro (1953)

Direção: Lima Barreto

Autor (diálogos): Rachel de Queiroz

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“O Cangaceiro”, filme realizado em 1953, foi um dos maiores sucessos do cinema brasileiro de todos os tempos. Escrito e dirigido por Lima Barreto, com diálogos criados por Rachel de Queiroz, “O Cangaceiro” foi o primeiro filme brasileiro a conquistar as telas do mundo. Considerado até hoje o melhor filme produzido pela Companhia Cinematográfica Vera Cruz, sua história se inspirava na lendária figura de Lampião: o bando de cangaceiros do capitão Gaudino semeia o terror pela caatinga nordestina. A professora Maria Clódia, raptada durante um assalto do grupo, se apaixona pelo pacífico Teodoro. O forte amor entre os dois gera grande conflito entre a turma. O Cangaceiro ganhou o prêmio de melhor filme de aventura e de melhor trilha sonora com a música “Olê muié rendeira”, interpretada pela também atriz Vanja Orico no Festival Internacional de Cannes. O sucesso em Cannes levou o filme para mais de 80 países e ele foi vendido para a Columbia Pictures. Só na França, ficou cinco anos em cartaz.

11. O Padre e a Moça (1966)

Direção: Joaquim Pedro de Andrade

Autor: Carlos Drummond de Andrade

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A chegada de um novo padre numa pequena cidade do interior de Minas Gerais causa verdadeira comoção na conservadora atmosfera local. A situação se agrava quando se descobre que o padre fica completamente atraído por um jovem moça. Uma história de amor proibido que logo se transforma em paixão desenfreda. Baseado no poema de Carlos Drummond de Andrade.

10. O Caso dos Irmãos Naves (1967)

Direção: Luís Sérgio Person

Autor: João Alamy Filho

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Conta a história real, ocorrida em Araguari (interior de Minas Gerais), da prisão, tortura e morte de Joaquim e Sebastião Naves, injustamente acusados de um crime na época do Estado Novo de Getúlio Vargas. Presos e torturados, os Naves são obrigados a confessar um crime que não cometeram.

9. Viagem ao Fim do Mundo (1968)

Direção: Fernando Campos

Autor: Machado de Assis

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Enquanto aguarda a chamada para o embarque em seu avião, um rapaz procura na banca de jornais uma leitura para a viagem. Descobre uma edição de bolso das “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis. Embarca e junta-se a um time de futebol, duas freiras, um modelo de publicidade que se senta a seu lado, e um homem de meia-idade visivelmente nervoso. O rapaz lê até o capítulo “O Delírio”, onde visualiza Pandora desnuda como a verdade, a mostrar-lhe como tem sido e será a vida na terra. O modelo visualiza, também, seu cotidiano, a freira tem dúvidas sobre a existência de Deus. O homem de meia-idade, o jogador de futebol, todos temem a vida, e os episódios cômicos e dramáticos se fundem num grande painel até o fim da viagem.

8. Cidade de Deus (2002)

Direção: Fernando Meirelles

Autor: Paulo Lins

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Buscapé (Alexandre Rodrigues) é um jovem pobre, negro e muito sensível, que cresce em um universo de muita violência. Buscapé vive na Cidade de Deus, favela carioca conhecida por ser um dos locais mais violentos da cidade. Amedrontado com a possibilidade de se tornar um bandido, Buscapé acaba sendo salvo de seu destino por causa de seu talento como fotógrafo, o qual permite que siga carreira na profissão. É através de seu olhar atrás da câmera que Buscapé analisa o dia-a-dia da favela onde vive, onde a violência aparenta ser infinita.

7. O Auto da Compadecida (2000)

Direção: Guel Arraes

Autor: Ariano Suassuna

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As aventuras de João Grilo (Matheus Nachtergaele), um sertanejo pobre e mentiroso, e Chicó (Selton Mello), o mais covarde dos homens. Ambos lutam pelo pão de cada dia e atravessam por vários episódios enganando a todos da pequena cidade em que vivem.

6. Memórias do Cárcere (1984)

Direção: Nelson Pereira dos Santos

Autor: Graciliano Ramos

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Nos anos 1930, o escritor Graciliano Ramos, acusado de colaborar com subversivos, é tirado de Alagoas e levado ao presídio de Ilha Grande, no Rio, onde convive com os mais diversos personagens da marginalizada população brasileira, de ladrões de galinhas a homossexuais e assaltantes. Baseado em relato autobiográfico.

5. São Bernardo (1972)

Direção: Leon Hirszman

Autor: Graciliano Ramos

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No interior de Alagoas, o filho de camponeses Paulo Honório, é um mascate que perambula pelo sertão a negociar com redes, gado, imagens, rosários e miudezas. Cria uma obsessão, arrancar a fazenda São Bernardo das mãos de seu inepto dono, o endividado Luiz Padilha, transformando este em seu empregado. Alcançando finalmente seu objetivo e, com muita astúcia e violência, Paulo Honório faz a fazenda prosperar e torna-se temido pelos empregados e fazendeiros vizinhos. Nesse momento, ele sente que precisa constituir família e vê essa possibilidade na professora esquerdista Madalena, a quem convida para visitar a fazenda. Casam-se, mas o humanismo e sensibilidade da professora se chocam com a rudeza de Paulo Honório, ficando no ar a suspeita de que ela o trai, física e politicamente. Daí por diante, Paulo Honório passa a viver dentro de um clima de ciúme motivado por sua imaginação possessiva

4. Porto das Caixas (1963)

Direção: Paulo Cesar Saraceni

Autor: Lúcio Cardoso

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Porto das Caixas é um filme brasileiro de 1962, do gênero drama, dirigido por Paulo Cesar Saraceni, com roteiro baseado em história original de Lúcio Cardoso. O filme baseia-se em crime ocorrido no município de Itaboraí, no estado do Rio de Janeiro. Uma mulher muito pobre, maltratada por um marido ignorante e bruto, resolve assassiná-lo, e para conseguir quem faça isso, utiliza seus encantos femininos.

3. Eles Não Usam Black-Tie (1981)

Direção: Leon Hirszman

Autor: Gianfrancesco Guarnieri 

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Em São Paulo, em 1980, o jovem operário Tião e sua namorada Maria decidem casar-se ao saber que a moça está grávida. Ao mesmo tempo, eclode um movimento grevista que divide a categoria metalúrgica. Preocupado com o casamento e temendo perder o emprego, Tião fura a greve, entrando em conflito com o pai, Otávio, um velho militante sindical que passou três anos na cadeia durante o regime militar.

2. Vidas Secas (1963)

Direção: Nelson Pereira dos Santos

Autor: Graciliano Ramos

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Baseado na obra de Graciliano Ramos, mostra a saga da família retirante pressionada pela seca no sertão brasileiro. Fabiano, Sinhá Vitória, o filho mais velho e o mais novo, além da cachorra Baleia, atravessam o sertão tentando sobreviver.

1. O Pagador de Promessas (1962)

Direção: Anselmo Duarte

Autor: Dias Gomes

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Zé do Burro (Leonardo Villar) e sua mulher Rosa (Glória Menezes) vivem em uma pequena propriedade a 42 quilômetros de Salvador. Um dia, o burro de estimação de Zé é atingido por um raio e ele acaba indo a um terreiro de candomblé, onde faz uma promessa a Santa Bárbara para salvar o animal. Com o restabelecimento do bicho, Zé põe-se a cumprir a promessa e doa metade de seu sítio, para depois começar uma caminhada rumo a Salvador, carregando nas costas uma imensa cruz de madeira. Mas a via crucis de Zé ainda se torna mais angustiante ao ver sua mulher se engraçar com o cafetão(Geraldo Del Rey) e ao encontrar a resistência ferrenha do padre Olavo (Dionísio Azevedo) a negar-lhe a entrada em sua igreja, pela razão de Zé haver feito sua promessa em um terreiro de macumba.